Enviado especial do Observador em Doha, no Qatar
Demorou mas foi. João Félix não estava propriamente a ter o melhor jogo frente ao Gana depois de ter uma aparição mais inspirada com a Nigéria mas acabou por aparecer num momento fulcral da partida quando anulou não só o empate mas também o potencial ascendente anímico do conjunto africano apenas cinco minutos depois do 1-1. Ao todo, foram dois anos sem marcar por Portugal, quebrando um jejum que vinha desde uma partida com a Croácia e que aumentou para quatro o número de golos pela Seleção.
O avançado do Atl. Madrid, que poderá também estar de saída nesta reabertura de mercado pelo contexto que tem enfrentado nos últimos dois meses com Diego Simeone, foi um dos elementos do conjunto nacional que passou pela zona mista, falando num espaço onde estava a voz dos jornalistas portugueses e dezenas de telefones e gravadores de toda a imprensa internacional num aglomerado que mais parecia o festejo de um golo em triplicado (e mais cartões de entrada existissem, mais lá estariam). E a próxima expressão de Félix resumia aquilo que começou por dizer perante a importância do golo marcado no início do Mundial.
“Claro que é uma sensação de alívio por tudo o que tem acontecido esta temporada. Faço o meu trabalho, tento sempre ajudar o meu clube e a Seleção, neste caso, e nunca facilito apesar de as pessoas pensarem isso. Faço sempre o meu trabalho o melhor possível para ajudar toda a gente, para dar alegrias aos adeptos e estamos contentes pela vitória”, começou por referir o avançado, que explicou também não estar com qualquer lesão apesar de ter saído com aparentes queixas físicas já em cima do minuto 90.
“Marcar o primeiro golo na estreia no Mundial? É um momento de alegria enorme, só me lembrava da minha família, dos meus amigos em casa como é que festejaram… À minha mãe deve ter-lhe dado um treco, já vou ver como é que ela está… Lembrei-me deles porque não puderam estar cá hoje e este golo é para eles, para os meus pais, para o meu irmão e para toda a minha família. Mensagem à minha mãe? Ainda não, não passei ainda pelo balneário, tive de vir aqui…”, contou, mais uma vez com aquele tom de alívio.
Dedico o golo a este grupo fantástico, a toda a minha família, todos os meus amigos, são todos importantes e fazem-me todos sentir bem e não é nestes momentos em que mais devem estar presentes, é naqueles em que as coisas não estão tão bem e aí estão lá sempre, não facilitam.”
“É um Mundial, todas as seleções são fortes, não há jogos nem equipas fáceis, nós é que temos de tornar os jogos fáceis”, concluiu o avançado do Atl. Madrid antes de fazer o resto da zona mista a caminho do balneário, já depois de ter passado no final do encontro um largo momento com o médio Thomas Partey, antigo companheiro de equipas em Espanha que está hoje no líder da Premier League, o Arsenal.
Depois, foram passando os jogadores, quase todos a cumprimentar mas sem falar. João Palhinha foi uma exceção, parando um minuto para falar a um jornalista brasileiro sobre Abel Ferreira, técnico do Palmeiras com quem trabalhou, Bernardo Silva também ainda falou em francês a uma cadeia televisiva com direitos de transmissão mas todos esperavam o momento que não demorou muito mais, com a passagem de Cristiano Ronaldo. Houve autógrafos, houve selfies, houve muita confusão, houve reproduções do famoso siiiiiiiiiii a seguir aos golos. Foi quase como se quem não falou enchesse as páginas de dezenas de jornais.