Enviado especial do Observador em Doha, no Qatar

Havia logo à cabeça Son Heung-min, capitão e jogador com maior currículo entre todos os convocados sendo aquela figura que todos reconheciam à cabeça acima dos restantes. Depois, nomes também conhecidos como Kim Min-jae, central que reforçou o Nápoles e que se está a afirmar no futebol europeu, Hwang Hee-chan, o avançado que chegou na última época por empréstimo ao Wolverhampton e ficou, ou Lee Kang-in, médio do Maiorca. A seguir, elementos que se destacaram neste Mundial, com Hwang In-beom, médio do Olympiacos que foi um dos melhores nos quatro encontros. Depois, num mundo à parte, surge Cho Gue-Sung.

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Aos 24 anos, pensar que o número da 9 da Coreia do Sul, que ficou também mais conhecido pela “pega” com Cristiano Ronaldo no momento da substituição do capitão nacional, poderia estar num Mundial era algo entre o quase impossível e o improvável. Depois de ter começado na Universidade de Gwangju como médio defensivo, foi passado para a frente do ataque e foi em 2019 para o modesto Anyang, da segunda divisão do país, onde se mostrou para dar o salto. Deu, para o Jeonbuk Hyundia Motors. No entanto, a experiência não correu da melhor forma, sendo emprestado ao Gimcheon Sangmu para que pudesse também em paralelo fazer o serviço militar obrigatório. Foi aí que despertou de vez o interesse de Paulo Bento, foi aí que o Jeonbuk quis que regressasse, foi com isso que se tornou o melhor marcador da K League este ano.

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Até aqui, tudo normal. Uma história bonita, de perseverança, de acreditar até ao fim pelo gosto no futebol, com um final por si só feliz entre os muitos capítulos que vai ainda abrir na carreira ao tornar-se o primeiro asiático a marcar dois golos de cabeça num só jogo do Mundial (2-3 com o Gana). Ainda assim, virou um autêntico fenómeno de popularidade no país e no próprio Qatar, com várias lojas que vendiam camisolas de todas as seleções no Mundial a esgotarem o número 9 da Coreia do Sul. Porquê? Virou um sex symbol.

Não tendo muitas internacionalizações e tendo sido descoberto pela primeira vez quando estava ainda no segundo escalão sul-coreano, foi importante não só no próprio Mundial como na qualificação. Agora, no Qatar, tudo disparou a nível de popularidade: chegou ao Qatar com menos de 20.000 seguidores, já levava esta noite 2,4 milhões (e a aumentar). A euforia foi tanta que, durante alguns dias, teve mesmo de desligar o telemóvel perante as centenas de propostas de casamento que recebeu. Entretanto, no Tik Tok, todos os vídeos que foram sendo feitos por clubes de fãs que se criaram levam 200 milhões de visualizações. A figura a fazer parecer um artista da K-pop também ajudou na forma como o fenómeno se propagou. No meio da euforia, foi ligado a uma relação com a modelo Ji Munju mas o romance foi desmentido.

Entre tanta coisa a mudar na sua vida, houve mais uma no final da derrota frente ao Brasil nos oitavos que ditou o afastamento da equipa: a saída de Paulo Bento. E, mesmo não falando inglês (ou não querendo pelo menos arriscar), Cho Gue-Sung pediu ao tradutor que lhe fizesse chegar as perguntas para dar respostas.

“Foi o treinador que me descobriu e percebeu como jogador. Sinto-me muito grato por ter tido Paulo Bento como meu professor. Saída? Houve muitas lágrimas no balneário a seguir ao jogo quando tivemos a nossa conversa em grupo sobre isso. Vou recordá-lo para sempre como o treinador mais importante em toda a minha carreira. Situação com Ronaldo no jogo? Nunca chegámos a falar durante o jogo, é uma daquelas coisas que podem acontecer durante um jogo”, comentou no final da partida no Estádio 974, que recebeu o seu último jogo e será desmantelado em breve rumo a um país africano (em princípio a Tunísia).