A Trump Organization foi condenada pela prática do crime de fraude fiscal. O jurí do tribunal, no estado de Nova Iorque, deu como provado que a organização oferecia benefícios não-declarados a alguns dos seus principais executivos.
A decisão foi conhecida esta terça-feira após mais de um dia de deliberação por parte dos jurados, que consideraram a organização empresarial de Trump culpada de todos os crimes de que estava acusada. Ao todo eram 17 as acusações que recaiam sobre o conglomerado controlado pela família Trump, que reúne as várias empresas do antigo Presidente, ligadas sobretudo ao setor imobiliário, consultoria financeira e investimentos em bolsa.
Os benefícios incluíam apartamentos financiados pela empresa, aluguer de carros de gama alta e várias despesas pessoais. A acusação frisou ainda a “cultura de fraude e mentiras” da empresa.
Como resultado da condenação, a empresa terá agora que pagar multas no valor de 1,7 milhões de dólares (cerca de 1,6 milhões de euros).
“O veredito de hoje responsabiliza as empresas de Trump pelo seu esquema criminoso de longa duração”, declarou em comunicado o procurador distrital de Manhattan, Alvin Bragg. Já em declarações aos jornalistas citadas pela NBC News, Bragg “As empresas do antigo presidente estão agora condenadas por crimes. Isso acarreta consequências. É a prova de que, em Manhattan, temos um sistema de justiça que é igual para todos”.
Trump e a família não eram pessoalmente visados neste caso, mas o seu nome foi invocado por várias vezes em ligação aos crimes em julgamento. A acusação terá mesmo chegado a afirmar que Trump “sancionou explicitamente as instâncias de fraude”.
Segundo o The New York Times, o procurador responsável pelo caso já tinha extraído uma confissão de Allen H. Weisselberg, que durante anos exerceu funções de Chief Financial Officer da Trump Organization, e cujo depoimento foi a chave para a condenação. Weisselberg não chegou, no entanto, a implicar diretamente o ex-Presidente e atual candidato às próximas eleições.
Ao longo de todo o processo, que começou em junho de 2021, a defesa da Trump Organization manteve sempre que Weisselberg agiu sozinho para proveito próprio, sem qualquer conhecimento da empresa.
Numa declaração tornada pública após a deliberação do jurí, a organização atacou o caráter de Wiesselberg, realçando que este “testemunhou sob juramento que ‘traiu’ a confiança que a empresa lhe havia colocado”, acrescentando ainda que “a ideia de que uma empresa pode ser responsabilizada pelas ações de um seu funcionário para proveito próprio, e sob as suas declarações de impostos pessoais é absurda”.
O próprio Donald Trump também reagiu através de uma publicação na sua rede social, a Truth Social:
“Homicídios e crimes violentos estão num nível recorde em NYC, mas o escritório do procurador distrital gastou quase todos os seus recursos numa caça às bruxas política contra ‘Trump’ sob o pretexto de benefícios extraordinários, uma coisa que, na história do nosso país, nunca foi julgado em tribunal. Duas semanas de julgamento quando nenhum caso de HOMICÍDIO foi julgado em 6 anos, para muita consternação das mães e familiares das vítimas que estão devastadas pelo facto de NADA estar a ser feito para conseguir JUSTIÇA. Estão demasiados ocupados com o ‘Donald’”, pode ler-se na publicação do antigo Presidente.
Além de um eventual impacto na recentemente anunciada candidatura eleitoral de Trump às Presidenciais, a condenação poderá, sobretudo, desbravar caminho à investigação da Procuradoria-Geral de Nova Iorque às atividades ilícitas do próprio Donald Trump
A investigação, que nos últimos anos esteve parada, conheceu novos desenvolvimentos nos últimos meses, nomeadamente com a reabertura do processo relativo a alegados subornos pagos pela campanha eleitoral de Trump à ex-atriz pornográfica Stormy Daniels com vista à ocultação de de um caso amoroso entre ambos.
Trump volta a ser investigado por pagamento secreto a atriz pornográfica