James Cameron costuma ser feliz na água, como o comprovam os sucessos de “O Abismo” e sobretudo de “Titanic”, sem esquecer os documentários temáticos como “Ghosts of the Abyss” ou “Aliens of the Deep”. Em “Avatar: O Caminho da Água”, a continuação de “Avatar” (2009), e tal como está expresso no título, Cameron está de regresso ao elemento aquático, desta feita fora da Terra, mais precisamente nas regiões marinhas do idílico planeta Pandora, em que decorre a parte de leão desta série de ficção científica que, de acordo com os planos do realizador, será composta por cinco filmes.

[Veja o “trailer” de “Avatar: O Caminho da Água”:]

James Cameron levou 19 anos a concretizar esta continuação do filme mais lucrativo da história do cinema, essencialmente devido à necessidade de conceber a tecnologia necessária para conseguir filmar os atores debaixo de água recorrendo ao processo de “performance capture”, o que acontece aqui pela primeira vez. Em “Avatar: O Caminho da Água”, e mais uma vez, o realizador de “O Exterminador Implacável” é responsável por inovações técnicas pensadas e concretizadas à medida das suas necessidades em termos cinematográficos, e das suas intenções no plano da narrativa.

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[Veja uma entrevista com James Cameron:]

Neste aspeto de pioneirismo “high tech” e dos efeitos visuais digitais, bem como na utilização do 3D, e da sua capacidade para os tornar serviçais das histórias que quer contar, e de os utilizar para a criação das formas de espectacularidade que deseja (no caso dos “Avatar”, todo um detalhado mundo alienígena, o do planeta Pandora, com habitantes, os Na’vi, um ecossistema, fauna, flora e um sistema de espiritualidade partilhado e ligado ao meio ambiente próprios), James Cameron mete num chinelo todos os seus contemporâneos, sem esquecer a fluência clássica do seu estilo visual. Tal como o original, “Avatar: O Caminho da Água” não tem nada a ver com os “blockbusters” desajeitados, robóticos e impessoais de super-heróis, fantasia e semelhantes.

[Veja o elenco falar do filme:]

Mas tal como o primeiro filme, a grande vulnerabilidade deste continua a ser a história. O desequilíbrio entre a grandiosidade visual e a previsibilidade sensaborona do enredo é mais do que evidente, com um novo confronto entre terrestres maléficos, materialistas e exploradores que se estão marimbando para o meio ambiente, e alienígenas “bons selvagens” cósmicos e seus aliados humanos que vivem num paraíso extraterrestre, em harmonia com a natureza e os animais e em estreita ligação espiritual com o próprio planeta. E mesmo com a novidade do tema da família e dos filhos “híbridos”, de adoção ou redescobertos no argumento, as abundantes situações feitas, clichés ao quilo e diálogos pirosos, demonstrativos ou pomposos, pioram ainda mais a situação.

Enquanto ficção científica, “Avatar: O Caminho da Água” é da mais esquemática, simplista e transparente, repetindo o compósito original de filme de ação espacial “hard tech”, fantasia “National Geographic” galáctica (agora centrada nas paisagens marinhas e subaquáticas do planeta Pandora, em vez das florestas da fita-matriz), piedades ambientalistas alegóricas (Pandora somos nós, claro) e lengalenga “new age” solene. E a fita estica-se tanto para encher e justificar as suas mais de três horas de duração (a batalha decisiva no oceano, em vez de um clímax, tem dois ou três), que no final já estamos fartos de tanta água, de tanto mergulho, de tanta criatura azul e verde a chapinhar furiosamente em tão vistosa mas básica trama.