Os jovens ativistas pelo clima condenados em tribunal por ocuparem a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa manifestaram-se desiludidos com a sentença e questionaram a legitimidade da detenção.

Os quatro jovens que em novembro passado ocuparam a Faculdade de Letras, numa ação que envolveu outros jovens e escolas em defesa de medidas para combater o aquecimento global, foram esta sexta-feira condenados em tribunal a uma pena de multa de 295 euros por crime de desobediência.

Na altura, o diretor da Faculdade de Letras, Miguel Tamen, chamou a polícia à instituição, para retirar os alunos, tendo quatro deles, “Ana”, “Nemo”, “Artur” e “Mateus” (como são conhecidos) sido detidos.

Ana Carvalho, uma das ativistas detidas, disse esta sexta-feira após a leitura da sentença que os quatro ficaram desiludidos por o juiz ter considerado legítima a ordem do diretor.

“Se querermos defender o estado de direito e a democracia então qual a legitimidade de um diretor que chama a polícia para remover alunos que estão a protestar pacificamente, numa luta que tem e que vai ter de ser de todos?”, questionou.

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E perguntou depois, lembrando as recentes inundações em Lisboa e outros locais do país, quantas mais cheias e inundações vão ser precisas para que as pessoas comecem a perceber que as alterações climáticas são reais e que estão a acontecer.

“O diretor, quando a cidade de Lisboa estava inundada não fechou a faculdade. Ou não lhe interessou ou não achou motivo válido, mas quando estávamos a protestar queria fechar a faculdade“, lamentou Ana Carvalho.

Questionada pelos jornalistas, a jovem disse que ainda não foi decidido se iriam ou não recorrer da sentença, garantiu que não estão arrependidos de não ter preferido a suspensão provisória do processo, e frisou que irão continuar a lutar pela causa.

Manifestação no Campus de Justiça em solidariedade com ativistas em julgamento

“A luta não só vai como tem de continuar. Não podemos continuar a ignorar a maior crise das nossas vidas“, disse, reafirmando que não consideram legítima a decisão do diretor da Faculdade e que têm também eles legitimidade para protestar e defender o clima.

Na rua a aguardar a saída dos ativistas do tribunal estiveram cerca de uma dezena de jovens, com faixas de apoio onde escreveram “Está nas nossas mãos” e “Não estão sozinhas”.

A saída do tribunal foi saudada com o entoar de frases como “lutar pelo clima não é crime” ou “esquadra, porrada, polícia e julgamento, não assustam mais que dois graus de aquecimento”.

Na segunda semana de novembro, seis escolas secundárias e faculdades em Lisboa foram ocupadas por grupos de estudantes que exigiam a demissão do ministro da Economia e o fim dos combustíveis fósseis até 2030.