Tolice, aselhice, patetice, parvoíce ou carolice. Há uma série de palavras terminadas em “ice” que poderão explicar os desaires dos aspirantes a “piloto” ou pilotos por um dia que decidem dar umas voltas ao traçado de Nürburgring, considerado por muitos um dos mais perigosos do mundo. Mas talvez a palavra que melhor descreve os acidentes aparatosos ou falhas espalhafatosas que aí acontecem seja “ápice”. Porque é num ápice que ocorrem os piões, as derrapagens descontroladas, as saídas de pista, as “passeatas” pela relva para lá dos correctores, ao estilo altos e baixos em terreno lavrado pelos pneus. Isto quando as rodas não saltam e seguem viagem sozinhas, o que também acontece…

Exemplos disso abundam, sobretudo nos dias em que o circuito alemão abre ao público para os chamados “passeios turísticos” (Touristenfahrten). Nesses dias, em particular, grassa o amadorismo que os profissionais da Auto Addiction tratam de registar para a posteridade, capitalizando em milhões de visualizações as diferentes câmaras que têm espalhadas pelo traçado, estrategicamente colocadas nos locais mais propensos a encontros imediatos com os rails. Como já vem sendo tradição, no final do ano, os desaires dos condutores – seja por manifesta falta de jeito ou por excesso de optimismo – são compilados num clássico best-of com o sugestivo título “Touristenfahrten Fails and Racing Crashes”.

A compilação tem cerca de meia hora de duração, em que se sucedem flagrantes “descuidos” que, com certeza, terão um susto e uma factura associados. E há peripécias quase circenses para todos os gostos, desde os humildes Peugeot 206 com uma série de anos no currículo e um condutor inexperiente ao volante, passando pelas “grandes máquinas” que surpreendem os mais incautos.

Certo é que, apesar de não sair barato quando a aventura corre mal, continuam a ser muitos os que não resistem ao desejo de explorar tudo o que os seus bólides têm para dar no circuito onde, tradicionalmente, os desportivos provam o que valem, estabelecendo recordes para deixar para trás a concorrência. Mas a adrenalina do momento, por vezes, parece que tolda o raciocínio e os pés nos pedais se baralham, trocando o travão pelo acelerador, ou as mãos no volante não são suficientemente expeditas para controlar o veículo.

São muitas as variáveis que influenciam a experiência que se traz do “Inferno Verde”. O que não muda é o desafio de atacar esta pista “com a faca nos dentes”, na esperança de superar as 73 curvas ao longo dos mais de 20 km do traçado, sem que um despiste seja um bilhete directo para voar sobre ou contra alguma das muitas árvores e precipícios que marcam a paisagem da floresta de Eifel, à volta da qual o circuito foi desenhado. Quem sai são e salvo, sem amolgadelas e sustos, tem uma experiência memorável. E quem não tem essa “sorte” também não se esquece. Na dúvida, a memória perpetua-se assim:

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