A Comissão Europeia está a averiguar se Dimitris Avramopoulos, comissário do Interior entre 2014 e 2019, cumpriu as condições em que foi autorizado em 2021 a trabalhar com a ONG Fight Impunity, ligada aos alegados subornos no Parlamento Europeu.

“Estamos a fazer controlos internos e, claro, se necessário, entraremos em contacto com o antigo comissário para termos mais detalhes”, revelou esta segunda-feira o porta-voz da Comissão Europeia, Eric Mamer, numa conferência de imprensa.

O ex-comissário “é membro honorário da organização (…) e teve uma autorização com restrições da Comissão em 3 de fevereiro de 2021, na sequência de uma recomendação do comité de ética independente” do executivo da União Europeia (UE), acrescentou o porta-voz.

“Neste momento, não temos razões para pensar que não foi esse o caso“, que não tenha cumprido as condições, sublinhou o porta-voz, mas adiantou que a Comissão não foi informada do montante da remuneração que o político grego recebia da organização não-governamental (ONG).

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Os pagamentos recebidos pelo antigo comissário ascenderam a 60.000 euros por ano, de acordo com informação revelada pelo próprio Avramopoulos, também ex-presidente da câmara de Atenas e ministro em várias ocasiões no seu país entre 2004 e 2014 com as pastas dos Negócios Estrangeiros, Defesa, Saúde e Turismo.

O fundador e presidente da ONG Fight Impunity – cujo objetivo passa pela defesa dos direitos humanos – foi o ex-eurodeputado socialista italiano Pier Antonio Panzeri, acusado no âmbito do escândalo chamado ‘Qatargate’ de alegada organização criminosa, branqueamento de capitais e corrupção, e detido, no dia 09 de dezembro, pela polícia belga, que está a conduzir a investigação do caso.

No âmbito da investigação na qual são acusados vários eurodeputados do Parlamento Europeu (PE), incluindo a ex-vice-presidente da assembleia (destituída na semana passada) Eva Kaili, assistentes parlamentares, sindicalistas e lobistas, a polícia belga encontrou 700 mil euros em dinheiro na casa de Panzeri, em Bruxelas.

Hoje, um tribunal da região italiana de Brescia vai analisar o caso para decidir se entrega à Bélgica a mulher de Pier Antonio Panzeri, o italiano que os procuradores belgas acreditam estar no centro de um alegado lóbi ilegal do Qatar para influenciar decisões políticas nas instituições europeias.

De acordo com mandados de detenção emitidos pelo juiz belga Michel Claise e consultados hoje pela agência Associated Press (AP), Panzeri é “suspeito de intervir junto de membros que trabalham no PE em benefício do Qatar e de Marrocos, a troco do pagamento” de grandes somas de dinheiro e de presentes.

A mulher de Panzeri, Maria Dolores Colleoni, e a filha, Sílvia Panzeri, são suspeitas de estarem “plenamente conscientes” das suas atividades e até de ajudarem a transportar “presentes“.

Ambas estão em prisão domiciliária perto de Brescia.

A ex-vice-presidente do PE, a deputada grega Eva Kaili, permanece em prisão preventiva na Bélgica, aguardando uma audiência na quinta-feira, assim como o seu companheiro, Francesco Giorgi, conselheiro parlamentar.

O escândalo do Qatargate está a abalar as instituições europeias e a presidente do PE, Roberta Metsola, reafirmou neste dia que haverá “tolerância zero à corrupção” na instituição, tendo já prometido na semana passada, numa intervenção no hemiciclo, reformas nesse sentido.

Um dos detidos no Qatargate implica mais dois eurodeputados no caso

“Vamos encarar este desafio sem rodeios”, disse Metsola à imprensa em Bucareste, onde vai reunir-se com o Presidente romeno, Klaus Iohannis, e o primeiro-ministro, Nicolae Ciuca, assegurando que fará tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que não haja “impunidade” para os envolvidos neste caso.