O Governo sérvio alertou esta segunda-feira para o risco de nova escala de tensões envolvendo a população sérvia no norte do Kosovo, maioritária nessa região, ao considerar que a situação está “à beira de um conflito armado”.
“Receio uma escalada. Faremos tudo para preservar a paz e a estabilidade que seja possível garantir mas, lamentavelmente, não vejo que exista qualquer estabilidade para os sérvios do Kosovo“, indicou a primeira-ministra sérvia, Ana Brnabic, em entrevista à televisão pública RTS, antes de admitir que a situação está “à beira de um conflito armado”.
Brnabic acusou o Governo kosovar de violar sistematicamente os direitos humanos da minoria sérvia do país, e a União Europeia (UE) e os Estados Unidos de ignorarem a situação, e que segundo indicou impeliram os sérvios kosovares e desencadearem novos protestos e erguerem barricadas e bloquearem estradas no norte do país.
A chefe do Governo de Belgrado sublinhou que os sérvios kosovares pedem “o respeito pelos direitos básicos”, e assegurou que apenas no mês e dezembro, os dirigentes albaneses kosovares de Pristina cometeram 16 “brutais violações” dos acordos internacionais e humanitárias.
A primeira-ministra sérvia também acusou a Kfor (a missão da NATO no Kosovo, presente desde 1999) de não ter impedido a “limpeza étnica” de 312 localidades kosovares que desde a sua presença no terreno deixaram de possuir população sérvia.
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Enquanto as instituições da UE se limitam a “observar em silêncio”, todos os serviços de segurança da Sérvia consideram que a situação chegou “à beira do conflito armado”, frisou ainda Brnabic.
Na semana passada, Belgrado pediu à Kfor o envio de soldados e polícias para proteger a população sérvia kosovar, o que foi rejeitado.
No norte do Kosovo, permanece um vazio de autoridade desde o início de novembro, quando todos os representantes da minoria sérvia, incluindo polícias e juízes, decidiram demitir-se de funções em protesto por diversas decisões de Pristina que consideram unilaterais e discriminatórias.
As frequentes tensões entre o Kosovo e a Sérvia agravaram-se a 10 de dezembro, na sequência do bloqueio das estradas do norte do Kosovo pela população sérvia, em protesto pela detenção de um ex-polícia desta comunidade e que foi considerada uma ação de intimidação.
Belgrado nunca reconheceu a secessão unilateral do Kosovo em 2008, proclamada na sequência de uma guerra iniciada com uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, na maioria albaneses, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.
Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,7 milhões de habitantes, na larga maioria de etnia albanesa e religião muçulmana.
O Kosovo independente foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.
A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil ou África do Sul) também não reconheceram a independência do Kosovo.
Belgrado e os sérvios kosovares também acusam Pristina de bloquear sistematicamente a formação de uma associação de municípios sérvios, prevista os acordos entre as duas partes assinados em 2013 e mediados pela UE, que permitiria um assinalável grau de autonomia a esta comunidade.