Morreu esta terça-feira de manhã o matemático português Eduardo Veloso, irmão de José de Sousa Veloso. Tinha 94 anos. A morte foi confirmada ao Observador por amigos próximos do professor e pela Associação de Professores de Matemática, de que era o sócio-fundador número 24.
“O Eduardo deixou-nos hoje. Partiu para sempre. Há várias semanas que lentamente se ia desligando da vida, manifestando o pesado cansaço que sentia. Quase até ao fim da vida não deixou de estudar e trabalhar sobre Geometria e Arte, insistindo sempre em deixar textos que pudessem úteis para os professores”, descreveu a Associação de Professores de Matemática no site oficial.
Também os sobrinhos afilhados de Eduardo Veloso, que não teve filhos, já reagiram à morte do professor e matemático: “Teremos sempre o tio no nosso coração no nosso olhar, nas nossas lembranças e o nome dele ainda andará pelas escolas partilhando o seu saber. Acredito nisso….o caminho dele não parou por aqui”.
Eduardo Veloso começou o percurso académico no curso de Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, mas no segundo ano da faculdade pediu transferência para o curso de Matemática na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Em entrevista ao Observador, admitiu que “o primeiro ano correu muito bem, era quase tudo matemática”.
“No segundo ano comecei as outras cadeiras. Passei o primeiro período todo chateado quando tinha que ir serrar bocados de metal e fazer coisas dessas; e bem-disposto quando ia para as aulas de Cálculo. Era uma certa contradição, eu estava a formar-me em engenharia”, recordou.
Entre os livros mais aclamados de Eduardo Veloso estão “Geometria – Temas Atuais” (1998) e “Simetria e Transformações Geométricas” (2012). De acordo com a Associação de Professores de Matemática, Eduardo Veloso tinha por lema de vida “escrever para os professores, discutir com professores as ideias geométricas, o poder do pensamento geométrico e o seu papel ímpar no desenvolvimento da matemática”.
A carreira profissional de Eduardo Veloso começou como professor numa escola técnica. Ainda foi proposto para uma bolsa de doutoramento na Alemanha mas foi-lhe recusada depois de ter sido interrogado pela PIDE por não ser “afeto ao regime”. Como não conseguia ser efetivo na escola, por causa da avaliação da PIDE, entrou na TAP como navegador e matemático.
Nessa profissão, Eduardo Veloso viajava sentado numa mesa, estudava a rota e os ventos; e comunicava essa informação ao piloto. Tal como explicou ao Observador em 2016, durante o dia, estudava-se “o chão a passar”. À noite, a navegação era astronómica, através da posição de três estrelas, “como os navegadores de há séculos”.
As cerimónias fúnebres de Eduardo Veloso começarão quarta-feira às 15h30 numa das capelas mortuárias na Igreja de São João de Deus na Praça de Londres. O corpo será cremado na quinta-feira pelas 17h30 nos Olivais, mas as cinzas serão levadas mais tarde para a Guarda, “terra que para ele sempre foi importante e da sua vida fez parte”, adiantou a família.