A poucos dias do regresso de Lula da Silva à presidência do Brasil, ultimam-se os preparativos para a tomada de posse. Historicamente, o ponto alto da cerimónia é a viagem do Presidente num Rolls-Royce descapotável que o transporta até ao Palácio do Planalto. No entanto, este ano poderá assistir-se a uma quebra com a tradição: isto porque o carro – um modelo Silver Wraith de 1952 – pode não estar em condições de desfilar.

Quem o diz é a futura primeira-dama, Rosângela (Janja) da Silva. A mulher de Lula revelou que estava em cima da mesa a hipótese de substituir o carro cerimonial:

O presidente Lula estará no carro aberto, como é o protocolo, se o Rolls-Royce estiver em condições, porque parece que ele foi danificado na última posse”, afirmou este mês, em declarações citadas pela CNN Brasil.

As declarações de Janja, que justificou a possível alteração de protocolo com a idade do carro, aliado a um alegado mau uso por parte da comitiva de Jair Bolsonaro, não caíram bem junto dos atuais inquilinos do Palácio do Planalto. Numa nota oficial, a administração garantiu que o veículo se encontra “em perfeitas condições de funcionamento, situação que se mantém na presente data”.

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De Isabel II aos filmes de James Bond: os ilustres passageiros do histórico “Rolls”

Estado de conservação à parte, não há dúvidas de que o Silver Wraith é um carro com história. O modelo data de 1946, e foi o primeiro Rolls-Royce a ser fabricado no período do pós-II Guerra Mundial. Menos de 2.000 exemplares foram produzidos ao todo – uma exclusividade que tornou o veículo num favorito de celebridades e chefes de Estado.

Ao Brasil, o Silver Wraith chegou em 1953 por iniciativa do então Presidente, Getúlio Vargas, com a Rolls Royce a vencer em concurso outras marcas clássicas da época, como a Cadillac e a Lincoln (que, até então, fornecia os carros oficiais do Presidente brasileiro). Durante sete décadas, tem servido a título oficial o chefe de Estado – incluindo o próprio Lula da Silva, que desfilou no descapotável nas suas duas tomadas de posse, em 2003 e 2007.

Além do Brasil, o Silver Wraith serviu ainda chefes de Estado de outros países. É o caso, por exemplo, da Irlanda, que usa o modelo como carro oficial da Presidência desde 1947, e do monarca da Dinamarca desde 1958. Em várias alturas transportou ainda figuras como o Rei dos Países Baixos, o general e antigo Presidente francês Charles De Gaulle e até a Rainha Isabel II.

O estatuto de clássico advém também das várias aparições que fez no cinema ao longo dos anos. Desde o célebre inspetor Clouseau em “O Regresso da Pantera Cor-de-Rosa” (1975) até super-heróis como Batman, várias foram as personagens que conduziram o Silver Wraith no grande ecrã. Chegou mesmo a aparecer nos filmes de James Bond (ainda que não guiado pelo famoso espião). Um carro com “licença para matar” – e que pode agora ser “encostado” pelo novo Presidente brasileiro.