O segundo dia de alegações finais do julgamento do caso conhecido como Football Leaks, em que Rui Pinto é o principal arguido, decorre esta quinta-feira, dia em que falam os representantes da Ordem dos Advogados e a defesa de Aníbal Pinto, também arguido neste processo e advogado de Rui Pinto na altura em que o alegado pirata informático manteve conversas com Nélio Lucas, do fundo de investimento Doyen, com o objetivo de receber dinheiro em troca do seu silêncio.
Do lado da Ordem dos Advogados, que se constituiu assistente devido ao acesso de Rui Pinto às caixas de e-mail de vários advogados — além disso, mesmo os advogados da PLMJ tinham e-mails no domínio da Ordem dos advogados –, foi sublinhado que “o arguido decidiu fazer a sua própria justiça”.
Não há quem seja a favor da corrupção. Se nós permitirmos que a justiça seja feita pelas próprias mãos, a justiça vacila. Qual seria o critério? Valeria arrancar olhos à pessoa que estava a assaltar. Não são, com todo o respeito, os Ruis Pintos e suas testemunhas que se interessam pelo combate à corrupção e pelos problemas do mundo.”
A representante desta Ordem, Rita Castanheira Neves, falou ainda sobre o facto de existirem documentos noutros processos que surgiram devido aos acessos feitos por Rui Pinto. “É uma vergonha. Será este o futuro da justiça em Portugal?”
Já a defesa de Aníbal Pinto avançou que “o dr. Aníbal Pinto até merecia uma medalha”, porque “cumpriu religiosamente o seu trabalho”. “Recusou a oferta de um milhão de euros para identificar o arguido”, justificou o advogado, acrescentando que Nélio Lucas, da Doyen, contactou Aníbal Pinto para denunciar Rui Pinto.
“Deverão absolver o dr. Aníbal Pinto”, pediu o advogado ao coletivo de juízes, que é presidido pela juíza Margarida Alves.
No primeiro dia de alegações finais, que decorreu esta quarta-feira, o Ministério Público decidiu que não ficou provado o crime de sabotagem informática à Sporting SAD e pediu, por isso, a condenação a uma pena de prisão por 89 crimes — de acesso ilegítimo, acesso indevido, tentativa de extorsão e violação de correspondência.
Durante a prova produzida em sede de julgamento, o Ministério Público considerou que “o projeto Football Leaks foi idealizado pelo arguido Rui Pinto”. E a procuradora Marta Viegas sublinhou que o MP não ficou convencido com a versão dada por Rui Pinto durante as últimas sessões de julgamento, altura em que explicou que não terá feito os acessos às contas de empresas, advogados e clubes de futebol sozinho.
Football Leaks. MP “nem sequer acredita” que Rui Pinto tenha cúmplices
“Nem sequer acreditamos que tal seja verosímil. Não é conhecido ninguém que tenha ajudado o arguido Rui Pinto”, adiantou a procuradora.