A organização não-governamental Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD) exigiu esta quarta-feira esclarecimentos e eventual responsabilização no caso do vídeo que mostra supostos militares sul-africanos a queimar corpos de rebeldes em Moçambique.

A nossa primeira reação é de repúdio a este crime macabro à luz da lei humanitária internacional, que estabelece regras claras sobre a atitude de militares perante soldados abatidos do grupo adversário”, declarou à Lusa o ativista e diretor do CDD, Adriano Nuvunga.

Em causa está um vídeo, divulgado nas redes sociais, que mostra militares alegadamente do exército sul-africano e outros elementos desconhecidos a atirarem cadáveres para uma pilha de escombros a arder, um episódio que resultou na abertura de uma investigação pelas Forças Armadas da África do Sul.

Para o diretor do CDD, embora a investigação ainda esteja em curso, as autoridades podem identificar com “facilidade” os militares envolvidos no ato, que, segundo o ativista, pode gerar raiva nas comunidades locais, arrastando mais jovens às fileiras dos insurgentes.

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“A insurgência tem uma dimensão interna e uma ação desta natureza pode escalar o conflito”, frisou o ativista, que defende que os soldados supostamente envolvidos no caso devem ser levados à justiça internacional.

Segundo uma nota da Força de Defesa Nacional da África do Sul (SANDF), o incidente, que já está a ser condenado pela oposição sul-africana, terá ocorrido durante o mês de novembro de 2022 em Cabo Delgado, para onde a África do Sul destacou um contingente militar como parte da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) em Moçambique (SAMIM).

A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.

O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.