O Ministério da Defesa russo nomeou um novo comandante da operação militar na Ucrânia, Valery Gerasimov, apenas três meses depois de ter escolhido Sergei Surovikin, conhecido como “general Armagedão”, para esse mesmo cargo.
Sergei Surovikin. Quem é “O General Armagedão” que Putin escolheu para comandar a guerra na Ucrânia?
A notícia foi avançada esta quarta-feira pela agência de notícias russa TASS, que cita um comunicado do Ministério. A justificação para a substituição e escolha de Gerasimov — que é chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, ou seja, um dos cargos de maior responsabilidade militar no país — é justificada com “a expansão da escala das tarefas”, “a necessidade de uma maior interação entre os ramos das Forças Armadas” e “melhoria da qualidade de todos os tipos de apoio e eficácia do comando”.
A nomeação de Gerasimov surge um mês depois de terem circulado rumores de que teria sido demitido do cargo de chefe do Estado-Maior. De acordo com o Institute for the Study of War, os rumores foram inicialmente veiculados por bloggers militares russos, que têm feito várias críticas à condução da operação militar russa na Ucrânia. Agora, o general acumula o cargo com o de comandante de toda a operação de guerra no país vizinho.
Esta dança de cadeiras é também um sintoma das divisões internas que existem dentro do Kremlin e que se agudizaram com a guerra na Ucrânia. Ainda em outubro, o conhecido opositor de Vladimir Putin Mikhail Khodorkovsky avisava, em entrevista ao Politico, que há atualmente dois campos a formarem-se dentro da elite russa: um liderado pelo líder checheno Ramzan Kadyrov e pelo chefe da empresa de mercenários Wagner, Yegeny Prigozhin; e outro encabeçado pelo ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e pelo próprio Gerasimov. A nomeação de Gerasimov pode, por isso, tanto ser um favorecimento dessa ala por parte de Putin, como também pode ser um teste.
Shoigu e Gerasimov têm sido alvos de críticas intensas por parte dos bloggers militares, mais próximos de Prigozhin e Kadyrov, vistos como uma ala mais dura que procura endurecer o conflito. A nomeação em outubro de Sergei Surovikin para comandar a operação na Ucrânia foi bem recebida por esta fação, com Prigozhin a apelidá-lo de “comandante mais competente do Exército russo”.
Gerasimov foi em tempos descrito pelo ministro da Defesa russo como “um homem do Exército até à ponta dos cabelos”. Tem experiência militar na segunda guerra da Chechénia, onde ocupou o seu primeiro lugar de comando num conflito ativo, mas também mais recentemente na guerra da Síria e na tomada de decisões para anexar a Crimeia.
A sua importância na hierarquia militar russa é tal que a Ucrânia levou a cabo uma tentativa de assassínio sobre ele em abril, quando visitou a linha da frente na Ucrânia. De acordo com o The New York Times, a ideia foi desencorajada pelos Estados Unidos, temendo uma escalada do conflito. Kiev avançou à mesma para um ataque, que acabou por matar um dezena de militares russos, mas do qual Gerasimov escapou incólume.