O Presidente dos EUA, Joe Biden, considerou este domingo, numa alocução da igreja de Martin Luther King, que o seu célebre sonho de igualdade e justiça “ainda não terminou” e considerou que a democracia atravessa um perigoso momento.

Em peregrinação à “America’s freedom church” em Atlanta para assinalar o aniversário do nascimento de Martin Luther King Jr., Biden apelou de novo ao combate pela “alma da América” e frisou que a vida e o legado do líder dos direitos civis “mostra o caminho a seguir e que [se deve] prestar-lhe atenção”.

“Já discursei perante parlamentos, reis, rainhas e dirigentes do mundo inteiro, mas aqui, sinto intimidade”, disse o Presidente norte-americano, o primeiro em exercício a exprimir-se durante a celebração religiosa de domingo na Ebenezer Baptist Church em Atlanta, a capital do estado norte-americano da Geórgia, no sul do país.

“Para onde caminhamos?”, questionou Biden do púlpito. “A minha mensagem a esta nação neste dia é que seguiremos em frente, juntos, quando escolhermos a democracia face à autocracia, uma comunidade amada face ao caos, quando escolhemos a devoção e os sonhos, sempre mantendo a fé”.

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Num país dividido e onde há apenas dois anos se registou uma violenta insurreição com o assalto ao Capitólio em Washington, “a batalha pela alma desta nação é perenal. Uma luta constante […] entre a esperança e o medo, bondade e crueldade, justiça e injustiça”, acrescentou, perante os fiéis, responsáveis oficiais e diversos dignitários.

Foi neste local que Luther King, Nobel da Paz em 1964, promoveu o seu ofício religioso, e num dia em que faria 94 anos.

Joe Biden evocou o mais célebre discurso do ícone do combate às discriminações raciais, assassinado em Memphis em 1968, no qual anunciou “I have a dream” (Tenho um sonho).

“Isso permanece a missão do nosso tempo, tornar esse sonho em realidade porque ainda não aconteceu”, considerou o Presidente.

Ao recordar que instalou no Gabinete Oval da Casa Branca um busto do pastor, Joe Biden retomou um dos seus temas favoritos ao voltar a sublinhar que “a batalha pela alma da América é eterna”, permanece uma “luta constante” para defender “esta convicção sagrada de que [todos nascem] iguais e à imagem de Deus”.

“Existe ainda muito trabalho a fazer sobre a justiça económica, dos direitos cívicos, o direito de voto”, reconheceu Joe Biden, cuja carreira política, até à sua eleição para a Casa Branca, assenta em grande parte no apoio dos eleitores afro-americanos.

Joe Biden respondeu ao convite do pastor Raphael Warnock, hoje o principal pastor da igreja, mas também de um senador Democrata que em novembro passado venceu as eleições neste estado contra um candidato apoiado pelo antigo presidente Donald Trump.

Ao acolher o seu hóspede após um canto de gospel, Raphael Warnock — e após considerar Luther King “o maior profeta americano do século XX” — aventou que para um “devoto católico”, numa referência ao Presidente, o ofício religioso Baptista pode parecer sem dúvida “um pouco exuberante”.

A cerimónia foi concluída com o coro a entoar “We Shall Overcome”, hino emblemático do movimento dos direitos cívicos.