No mundo das celebridades, o ambiente anda particularmente agitado. A cantora Shakira e o antigo (desde novembro) jogador Gerard Piqué terminaram uma relação que durava há 12 anos. O findar do relacionamento parece não ter nada a ver com o que quer que se tenha passado no jogo do FC Porto a contar para a Primeira Liga em que os dragões quiseram toda a Fama e respetivo proveito ao venceram por 4-1. Mas o inesperado é capaz de fenómenos verdadeiramente impossíveis.

A semelhança entre os dois eventos prende-se com o encerrar de um capítulo e a abertura de um novo, como se um muro opaco fosse construído entre o que deixa de existir e o que na verdade existe na atualidade. A colombiana fez uma música que serviu o propósito de soltar-se das amarras do passado recente e voar para um momento diferente da sua vida longe do ex-jogador e capitão do Barcelona.

Ao longo da canção, Shakira diz “desculpa, apanhei outro avião // não volto aqui, não quero outra deceção // tanto te fazes de campeão // e quando precisava de ti deste a tua pior versão” (No original: perdón, ya cogí otro avión // aquí no vuelvo, no quiero otra decepción // tanto que te las das de campeón // y cuando te necesitaba diste tu peor versión). A verdade é que podia ser a mensagem de um adepto do FC Porto para a equipa de Sérgio Conceição. Quando o Benfica, líder da Primeira Liga, escorregou pela primeira vez no Campeonato, o FC Porto parecia ter uma boa oportunidade para se aproximar da frente. O empate a zero no Jamor, diante do Casa Pia, na jornada anterior, foi um deslize inoportuno quando era preciso os azuis e brancos darem uma de campeão e acabaram por mostrar a sua pior versão.

Contra o Famalicão, o FC Porto aspirava a mostrar que é um Ferrari e não um Twingo e que é um Rolex e não um Casio (marcas à parte, claro está), comparações que Shakira usou no referido tema para contrapor o luxo com a trivialidade.

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A receção à equipa minhota aconteceu num dia em que os rivais de Lisboa, Benfica e Sporting, se defrontavam. Sérgio Conceição só tinha um desejo: “Que ganhe o melhor”. A verdade é que os dragões já não correm só com Benfica e Sporting, pois têm também que lidar com o segundo classificado, Sp. Braga, na luta pelo título, onde ocupam o terceiro lugar. Mesmo assim, viu águias e leões perderem pontos fruto do empate a dois. Deste modo, em caso de vitória, os dragões podiam reduzir para cinco a diferença para o líder Benfica.

Ficha de Jogo

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FC Porto-Famalicão, 4-1

Primeira Liga – Jornada 16

Estádio do Dragão, Porto

Árbitro: Gustavo Correia (AF Porto)

FC Porto: Diogo Costa, João Mário, Fábio Cardoso, Iván Marcano (Pepe 81′), Wendell (Rodrigo Conceição 81′), Matheus Uribe, Marko Grujic (Stephen Eustáquio 64′), Wenderson Galeno, Otávio, Toni Martínez (Pepê 63′) e Taremi (Danny Loader 88′)

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, André Franco, Gonçalo Borges e Gabriel Veron

Treinador: Sérgio Conceição

Famalicão: Luiz Júnior, Alexandre Penetra (Martín Aguirregabiria 88′), Enea Mihaj, Riccieli, Francisco Moura, Gustavo Assunção (Zaydou Youssouf 45′), Santi Colombato, Iván Jaime (Gustavo Sá 88′), Ivo Rodrigues, Pablo Felipe (Alex Dobre 74′) e Rui Fonte (Junior Kadile 74′)

Suplentes não utilizados: Ivan Zlobi, Diogo Queirós, Rúben Lima e David Tavares

Treinador: João Pedro Sousa

Golos: Galeno (10′ e 21′), Toni Martínez (43′), Taremi (48′) e Rui Fonte (52′)

Ação disciplinar: cartões amarelos a Galeno (36′), Wendell (44′), Marcano (55′) e Luiz Júnior (57′)

Para atingir esse objetivo, o treinador do FC Porto, Sérgio Conceição lançou um avançado de pé quente. Toni Martínez foi a jogo como prémio pelo hat-trick conseguido na eliminatória da Taça de Portugal contra o Arouca. Nas costas do espanhol, formando a dupla de ataque do 4x4x2 do FC Porto, Taremi.

O treinador do Famalicão, João Pedro Sousa, tentou contrariar o pendor ofensivo portista com um 4x2x3x1, onde Pablo Felipe demonstrava particular predisposição para baixar no terreno e formar uma linha de cinco a defender. De resto, sendo Alexandre Penetra central de origem, aparecendo no Dragão adaptado a lateral-direito, e com o extremo brasileiro empenhado na missão defensiva, seria de prever que, por ali, o FC Porto não conseguisse mais do que encarar uma porta fechada.

Acontece que o Famalicão não escondeu a chave de um acesso que julgara negado e, por ali, Galeno entrou como se aquele pedaço de relva fosse propriedade sua. Primeiro, o extremo apareceu para finalizar um passe de Toni Martínez (10′). Depois, aproveitou uma bola que o guarda-redes do Famalicão, Luiz Júnior, soltou e encostou para novo golo (21′). De seguida, porque, num ato altruísta de quem partilha o que conquistou com os que vestem as suas cores, assistiu, com um passo atrasado, Otávio para o terceiro (43′).

No último jogo em casa antes do fecho da primeira volta do Campeonato, o FC Porto não tinha dificuldades em chegar à frente de ataque. Sem muito esforço, Taremi, um mapeador de golos com provas dadas, também se colocou nos registos do jogo (48′).

Os comandados de Sérgio Conceição pouco desperdiçavam. Embora, com pouca produção ofensiva, também não se pode dizer que o Famalicão tenha colocado fora as oportunidades à sua disposição que, apesar de reduzidas, vieram a surgir. Aos repelões, Rui Fonte meteu a cabeça entre os atrapalhados defesas portistas e deu um resquício de dignidade à derrota que os famalicenses iam sofrendo (52′).

Seguiram-se momentos de atividade para o VAR que se estivesse adormecido com a falta de incerteza no resultado acordara para fazer cumprir as leis do jogo. Taremi (59′) marcara um grande golo de chapéu, após ser assistido pelo próprio guarda-redes portista, Diogo Costa, mas o domínio com a mão impossibilitou que o lance contasse. Por outro motivo, Pablo Felipe (60′), do lado do Famalicão, também sofreu com um golo que a equipa de arbitragem impedira de festejar por se encontrar em posição irregular.

O atrevimento de Iván Jaime levou o jogador famalicense arriscar remates de longe que a bancada acolheu com agrado. Quando o desaproveitamento virara tendência geral, Galeno ousou não fazer o hat-trick, mesmo em condições altamente favoráveis para o fazer. Valeu ao extremo brasileiro que o 4-1 não estivesse sob ameaça.

O FC Porto passa assim a distanciar-se apenas um ponto do Sp. Braga e cinco do Benfica, relançando o Campeonato antes da visita a Guimarães. De súbito, aquilo que podia parecer um pronúncio de um mau momento, acabou por se revelar um breve encontro com uma pequena desilusão sem que a amargura e os dragões se tenham conhecido verdadeiramente.