A Grécia despediu-se do seu último Rei. Constantino II morreu na passada terça-feira, 10 de janeiro, e o funeral decorreu durante a manhã desta segunda-feira, 16 de janeiro, em Atenas.
A cerimónia teve início às 10h00 (hora de Lisboa) na Catedral da Anunciação de Santa Maria, mais conhecida como Catedral de Atenas. Entre os cerca de 200 convidados dentro do templo esteve a ampla família real da Grécia (Constantino e Ana Maria têm cinco filhos, Alexia, Pavlos, Nikolaus, Theodora e Philippos) bem como vários membros de casas reais.
Constantino II era irmão da rainha Sofia de Espanha, pelo que a família real espanhola esteve quase toda presente. Além da rainha emérita e da sua irmã mais nova, a princesa Irene, também o rei Juan Carlos voou para Atenas, bem como os Reis Felipe e Letizia e as irmãs do monarca, as infantas Elena e Cristina, com os seu respetivos filhos.
A casa real da Grécia também tem parentesco direto com a casa real da Dinamarca, uma vez que a rainha Ana Maria, viúva do Rei Constantino, é irmã da Rainha Margarida da Dinamarca. Por isso a soberana nórdica não faltou à cerimónia e fez-se acompanhar pelos dois filhos, os príncipes Frederico e Joaquim.
Os Reis dos Países Baixos, Willem-Alexander e Maxima também estiveram presentes, juntando-se a eles Beatriz, a rainha emérita. Phillipe e Mathilde dos Belgas, Carlos Gustavo e Sílvia da Suécia e Alberto do Mónaco, a Princesa Ana do Reino Unido com o marido sir Tim Laurence, os príncipes herdeiros da Noruega, Haakon e Mette-Marit, a rainha Noor da Jordânia e Farah Diba, mulher do antigo Xá da Pérsia foram outros dos convidados reais deste funeral.
O governo grego, liderado pelo primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis, decidiu na passada quarta-feira que o Rei teria um funeral privado e não de Estado. Dois dias mais tarde, e depois de negociações com dois dos filhos do monarca, os príncipes Pavlos e Nikolaus, o governo autorizou que se realizasse uma espécie de câmara ardente, sem contudo lhe darem este nome ou contribuirem para a sua organização, segundo dá conta o El Mundo.
Pelas 4h00 (hora de Lisboa, 6h00 em Atenas) o corpo do Rei foi colocado em câmara ardente em St. Eleutherios, uma pequena igreja próxima da Catedral de Atenas, para que o público se pudesse despedir do monarca. Segundo o jornal espanhol, era intenção do governo grego que a morte do Rei não tivesse relevo, mas foram milhares os gregos que se juntaram para se despedirem de Constantino II e chegaram a esperar cerca de três horas em fila. Além de muitos atenienses, viajaram para a capital autocarros com gregos de outras zonas do país, em especial de Peloponeso, região onde os Reis terão residido desde o seu regresso ao país há cerca de uma década.
A Grécia terá eleições legislativas em julho deste ano e, segundo o jornal britânico The Times, a decisão do governo de fazer um funeral privado (e pago pela família) terá apaziguado a opinião pública. Ao mesmo meio de comunicação membros do governo grego garantiram que estavam em contacto com a família real para tratar da segurança dos membros da realeza internacional que se deslocaram a Atenas.
A cerimónia foi preparada ao longo dos últimos dias pelos príncipes gregos Pavlos e Nicolás. O primeiro, o príncipe herdeiro, esteve à porta da catedral a receber os convidados. A rainha Ana Maria foi a última a chegar à cerimónia, acompanhada pela princesa herdeira Marie-Chantal e recebida com muitos aplausos da multidão que se juntou à volta da catedral. Durante a cerimónia o príncipe Pavlos fez um discurso dirigido ao pai e em inglês. À saída dos convidados depois do funeral, várias pessoas gritaram “Pavlos” e depois “Sofia”, quando a rainha emérita de Espanha e princesa grega saiu da cerimónia.
O corpo do Rei seguiu depois de carro para Tatoi, a propriedade da família real grega nos arredores de Atenas, onde estão sepultados já 22 dos seus antepassados. Já lá o caixão foi transportado por seis homens, entre eles filhos e netos do Rei, para a pequena capela de Santa Igreja da Ressurreição, onde decorreu uma breve cerimónia. O corpo de Constantino II seguiu depois novamente sobre os ombros dos seus descendentes e num cortejo fúnebre a pé até ao cemitério da propriedade, onde foi colocado junto dos seus pais, os Reis Pavlos e Federica, como era sua vontade.
Várias pessoas reuniram-se à beira da estrada para dar um último adeus ao Rei e cumprimentar os membros da família real. Tatoi foi o palácio onde os três irmãos, os príncipes Sofia, Constantino e Irene cresceram. Depois de ter sido muito danificado durante a Segunda Guerra Mundial, está fechado desde 1967. Em 2003 passou para as mãos do estado grego e há pouco mais de um ano um grande incêndio consumiu parte da propriedade. Recentemente foram postos em marcha planos para o restauro do palácio com vista a tornar-se um ponto turístico da Grécia e uma quinta ecológica. O Rei Carlos III de Inglaterra está a aconselhar o governo nesta remodelação que terá um orçamento de 14,20 milhões de euros, segundo a revista Hola.
O caixão do Rei foi envolvido na bandeira da Grécia. Tanto na cerimónia na catedral de Atenas, como em Tatoi, a urna de Constantino II esteve acompanhada por uma coroa de flores em nome da mulher e as condecorações do monarca. O arranjo floral foi composto pelas flores brancas que a rainha levou no seu ramo de casamento, e que têm um simbolismo de felicidade. A coroa de flores contava com uma faixa que teria inscrita a frase “a tua amada Ana Maria”, segundo a revista espanhola. Às mais importantes condecorações do antigo chefe de estado, a família escolheu também acrescentar outras referências relevantes em cruzes e medalhas.
Na noite que antecedeu o dia do funeral, a família real grega reuniu-se com vários membros de outras casas reais para um jantar no restaurante de um hotel em Atenas, como conta a Vanitatis. Os convidados foram fotografados à saída e quem despertou especial atenção foram a rainha Letizia de Espanha e a princesa Marie-Chantal da Grécia, de quem os maridos, o Rei Felipe e o príncipe herdeiro Pavlos, são primos direitos. Há cerca de cinco anos acendeu-se uma pequena polémica entre ambas. Depois de uma controversa cena entre a rainha Sofia, Letizia e as duas filhas numa missa de Páscoa em Palma de Maiorca, a princesa grega criticou a rainha de Espanha nas suas redes sociais, mas rapidamente retirou a publicação. Na noite deste domingo foram vistas a sair de braço dado, à conversa e com ar animado, arrumando a ideia de que poderia haver um conflito entre ambas.
Foi na Catedral de Atenas que os reis Constantino e Ana Maria da Grécia se casaram em 1964. O mesmo local onde os reis de Espanha, Juan Carlos e Sofia, também já haviam casado dois anos antes. Só em outubro de 2021 a catedral voltou a receber um casamento real, o de Philippos e Nina Flohr. O compromisso religioso do filho mais novo dos reis da Grécia reuniu a família real num grande evento na capital grega.
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Em 1967, a família real teve de deixar o país e desde então o seu tratamento e imagem passou por momentos difíceis. Em 1994, durante o governo então liderado pelo primeiro ministro Andreas Papandreu, foi retirado ao rei Constantino o passaporte grego, assim como também assistiu à expropriação das suas terras, incluindo o palácio Tatoi, a casa da família real, e a passagem do rei pelo seu país não era bem vista nem sequer para passar férias. Os Jogos Olímpicos de 2004 marcaram um ponto de viragem. O exílio acabou quando o rei foi convidado a regressar à Grécia e a família começou a fazer férias e a frequentar o país.
Os reis Constantino e Ana Maria viriam a instalar-se definitivamente na Grécia em 2012 e a partir daí também começaram a participar em atos públicos. Em 2019, o primeiro ministro grego, o conservador Kyriakos Mitsotakis, decidiu fazer as pazes entre a Grécia e a sua família real e deixou de renegar a sua história.