Estava a ser uma audição morna, até que subiu de tom. O ministro da Economia, António Costa Silva, envolveu-se esta terça-feira numa discussão com a deputada Mariana Mortágua, acusando a bloquista de se comportar “como se fosse dona da verdade”.
Na sua intervenção de sete minutos na audição regimental que teve lugar na comissão de Economia e Obras públicas, Mariana Mortágua acusou o ministério de ter um “fascínio meio inocente por tudo o que é moderno”, dando o exemplo concreto do blockchain, que tem sido apontado pelo ministro como “o centro da revolução 4.0”. Na visão da deputada, o Governo não tem uma “postura crítica” sobre esta tecnologia, que “até hoje não foi aplicada a nenhum projeto relevante”, apenas a “projetos que teriam acontecido na mesma” sem ela.
Na mesma senda, a deputada criticou a falta de atitude crítica do Executivo em relação ao SIFIDE (Sistema de Incentivos Fiscais em Investigação e Desenvolvimento Empresarial), uma “borla fiscal sem igual” que promove o “capitalismo de aviário”, na visão de Mariana Mortágua.
Costa Silva não gostou da provocação, e respondeu visivelmente irritado. “As tecnologias transformam o mundo, trouxeram-nos das cavernas até aqui e explicam o extraordinário desenvolvimento económico que a nossa civilização teve no século XXI”, começou por responder Costa Silva, ao que Mariana Mortágua retorquiu que entre as tecnologias também existe “banha da cobra”.
O ministro não desarmou e a discussão escalou. “Foram grandes descobertas como a eletricidade, o telefone ou o laser que tiveram impacto na transformação da vida das pessoas, e a senhora deputada tem uma posição obsoleta e retrógrada. Negar o efeito das tecnologias era a última que esperava ouvir no parlamento português esta tarde. Aliás, a senhora deputada é especialista em ter obsessões sobre coisas erradas. Outra é o SIFIDE”, atirou o ministro.
“Às vezes estou nestes debates e parece que estamos aqui a posicionar-nos numa espécie de regresso às cavernas. As tecnologias salvaram a espécie humana”, continuou. Mariana Mortágua afirmou que “ninguém falou em tecnologias”, ao que o ministro respondeu ser a sua vez de falar. “Seja democrata e não totalitária. Ouça os outros. A senhora deputada comporta-se como se fosse dona da verdade. Está errada em quase tudo”, concluiu.
A deputada do BE questionou ainda o ministro sobre o possível pagamento de uma indemnização à ex CEO do Banco de Fomento, Beatriz Freitas, e aos presidentes de sociedades de garantia mútua, na sequência do caso de Alexandra Reis na TAP. O ministro admitiu não saber, mas deixou uma promessa. “Vou investigar e informá-la”.