Fernando Medina pediu à Procuradoria-Geral da República para ser ouvido no âmbito do caso que motivou buscas esta terça-feira na Câmara Municipal de Lisboa. “Solicitei à PGR que possa ser ouvido para prestar todos os esclarecimentos que o Ministério Pública entenda como necessários”, avançou aos jornalistas.

Medina sobre continuidade no Governo: “Tenho as condições da minha consciência”

No Ministério das Finanças, Fernando Medina deu explicações sobre o caso de suspeita de corrupção, participação económica em negócio e falsificação numa nomeação para a ´Câmara de Lisboa em 2015 pelo então presidente, que é agora ministro das Finanças.

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O ministro afirmou que não tem conhecimento de qualquer investigação em curso. “Nunca fui ouvido, chamado a prestar esclarecimento em nenhum processo de natureza judicial dos vários vindos a público, em especial o que agora é noticiado”.

Sobre os contratos em investigação na Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina disse que “as razões que levaram à contratação estão expressas no despacho assinado em 2015, há quase oito anos“: “Não é uma contratação avulsa, desgarrada do mandato”, assegurou Medina, que explicou que a equipa formada para gerir empreitadas em Lisboa teve a ver com o elevado número de obras que na altura estavam a decorrer na cidade.

Buscas na Câmara de Lisboa em caso de corrupção. Medina assinou contrato suspeito

O mandato da equipa “está bem definido, por escrito”, disse o socialista afirmando que a equipa “desempenhou a sua missão”: “Não conheço nenhuma investigação, nunca fui ouvido”, afirmou Medina quando questionado sobre as consequências políticas.

Perante a insistência dos jornalistas sobre se Medina mantém condições para continuar à frente do Ministério das Finanças, respondeu: “Tenho as condições que decorrem da minha consciência, é de quem tem mais de duas décadas de serviço público sempre com plena consciência da defesa do interesse público”.

“Politicamente, Medina está muito debilitado na pasta mais importante da governação”

“E também com a transparência e frontalidade de quem afirma que durante todos estes anos nunca foi ouvido no âmbito de nenhum processo”, disse, repetindo que está disponível para ser ouvido pela justiça: “Quanto as casos de natureza política respondo politicamente por eles”, concluiu, recusando “especular sobre o futuro” e dizendo mesmo que, neste momento, não sabe se a investigação existe.

Medina diz que Morão contratado por ajuste direto, não concurso

O antigo autarca avançou que a decisão da contratação de Joaquim Morão, um histórico socialista, foi sua e que a contratação foi feita por ajuste direto. “Precisamos de uma pessoa com aquele perfil e características, um dos autarcas mais experiente do país com capacidade de obra. Tinha o perfil adequado para a missão que lhe era destacada”, descreve. Da sua equipa faziam parte mais dois técnicos, um engenheiro do gabinete de Medina, confirmou o próprio. E outro do departamento de urbanismo.

Medina, questionado sobre se tinha existido alguma consulta prévia à contratação, respondeu que “não foi necessário qualquer processo de consulta” sobre Joaquim Morão. Arrepende-se da escolha? “Ele desempenhou um muito bom trabalho e só uma equipa muito profissional conseguiu que as obras todas na cidade se realizaram”, respondeu o atual governante.

Fernando Medina vai prestar esclarecimentos sobre as buscas na Câmara Municipal de Lisboa

Mais uma vez, quanto à verificação prévia das contratações feitas, nomeadamente de um histórico do PS, e que estão agora a ser investigadas, Medina repetiu que o contrato com Morão “não foi por concurso”. E disse que “não se deve encontrar muita gente nos diferentes partidos que não reconheça os grandes méritos de Joaquim Morão para gerir um empreendimento desta natureza”.

A escolha não teve a ver com critério partidário mas com as suas qualidades para cumprir essa tarefa”, disse Medina voltando a repetir que foi por sua “determinação” que foi escolhido Morão. “Podia até ter sido ao histórico social-democrata e há vários competentes”, afirmou para argumentar que não se tratou de uma escolha política.

Medina “perplexo” com suspeitas de favorecimento do PS

Sobre as implicações para o PS e as suspeitas de favorecimento do partido ao qual pertence, o ex-autarca reage com “perplexidade”: “Não conheço”, garantiu. “O objeto estava bem definido e a tarefa foi bem cumprida”, argumenta.

Questionado sobre se falou com António Costa sobre o caso, Fernando Medina disse que “no Conselho de Ministros e todos os ministros falam e todos os ministros falam com o primeiro-ministro”. “Não falei com Joaquim Morão. Se tiver de falar, falo. Se me apetecer falar, falo”, diz afirmando que está de “consciência tranquila”.

Ser escrutinado “não pode fragilizar em nada”, defendeu ainda Medina, que diz que tem “consciência clara” de que “todas as decisões” que tomou “foram na defesa do interesse público e na consciência de sempre estar no cumprimento da legalidade e das regras adequadas”. Também disse ter “tranquilidade sobre o funcionamento das instituições no país”, nomeadamente nas que têm capacidade para investigar.