Ficou (quase) tudo na mesma. As expectativas dos dirigentes ucranianos eram altas para a reunião desta sexta-feira que ocorreu na base aérea de Ramstein, na Alemanha. Num discurso momentos antes de os governantes de 50 países se reunirem, o Presidente da Ucrânia pediu “centenas de tanques”, que serviriam para “lutar contra a maldade russa”. Volodymyr Zelensky tinha na mira os dirigentes alemães, que mantinham um impasse sobre o envio dos tanques Leopard-2.

Mas nada feito. Em declarações à imprensa após a reunião, o novo ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, manteve o braço de ferro e revelou à comunidade internacional que Berlim ainda não tomou uma posição sobre o envio dos Leopard-2. O assunto terá sido abordado durante o encontro com os 50 governantes, mas a Alemanha continua a resistir. 

“Não há uma opinião unânime. Há boas razões para a entrega e boas razões para não o fazer”, comentou Boris Pistorius sobre o envio dos Leopard-2, acrescentando que não consegue adiantar qual será o desfecho. “A prioridade é a defesa aérea da Ucrânia e é nisso que nos estamos a concentrar”, reforçou o ministro alemão, salientando, contudo, que todos os cenários estão em aberto.

Ainda assim, Boris Pistorius detalhou que será feita um inventário aos tanques alemães, principalmente dos Leopard-2. O objetivo é que, quando for tomada uma decisão, se “aja rapidamente”: “Se for uma decisão positiva, tem de ser feita rapidamente”, sinalizou o governante germânico, que ressalvou que não teme uma “escalada de conflito” se os tanques forem enviados para a Ucrânia.

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O ministro da Defesa germânico indicou que a luz verde poderá vir daqui a “um dia, uma semana, um mês”. “Ninguém pode dizer hoje que haverá uma decisão sobre os tanques, nem como é que ela será”, aclarou Boris Pistorius. No entanto, o governante destacou que Alemanha continua comprometida em apoiar a Ucrânia “o tempo que for preciso”.

Pressão de outros países? “Não foi discutido”

Eslováquia, República Checa, Polónia, Finlândia, Dinamarca, Países Baixos e até Portugal. Vários países já demonstraram disponibilidade para enviar tanques Leopard-2 para a Ucrânia. O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, confirmou essa informação esta sexta-feira.

Para que estes países consigam enviar os tanques para a Ucrânia, necessitam da autorização alemã. E esta continua a não chegar. A Polónia, pela voz do vice-ministro dos Negócios Estrangeiros Paweł Jabłoński, já admitiu que pode passar por cima da Alemanha. “Se houver forte resistência, estaremos prontos para tomar ações fora do usual, mesmo que alguém se ofenda com isso, mas não vamos antecipar-nos aos factos. Vamos tentar garantir que o maior número possível de países, juntamente connosco, tem um impacto efetivo na Alemanha”, concretizou.

No entanto, o assunto “nem terá sido sequer discutido” na reunião, adiantou o ministro da Defesa alemão. Confrontado com as declarações do governo polaco, Boris Pistorius não respondeu, vincando que “não é sua responsabilidade” impedir Varsóvia de enviar tanques, mas antes do chanceler alemão, Olaf Scholz. Ainda assim, o ministro descartou que a Alemanha esteja a bloquear as iniciativas de outros países.

Zelensky pediu tanques, mas também caças F-16

Perante dirigentes de 50 países, o Presidente da Ucrânia pressionou o Ocidente a enviar armamento para a Ucrânia. “Temos muito tempo? Não. O terror não permite discussões, o terror destrói cidade a cidade”, alertou Volodymyr Zelensky, sublinhando que a “guerra não permite atrasos”. “O tempo deve ser a vantagem da Ucrânia e não da Rússia.”

Acusando o Kremlin de criar uma nova ordem mundial baseada no “ódio” e de querer “destruir o primado da lei e dos valores relacionados com os direitos humanos”, Volodymyr Zelensky pediu que os líderes do Ocidente ajam. “Temos de mostrar que o ódio não pode ser mais forte”, reforçou, declarando que a Rússia “deve perder” o conflito.

Para isso, o Chefe de Estado ucraniano apelou ao envio de centenas de tanques com o intuito de “parar a maldade russa”. Mas não só: no final do discurso em Ramstein, Volodymyr Zelensky pediu mesmo caças F-16 ao Ocidente. Pelo menos um países já assinalou que está a estudar essa hipótese: os Países Baixos. “Não há armas tabu”, disse a ministra da Defesa neerlandesa, Kajsa Ollongren. Só para a Alemanha é que parece haver.