Acusações de monopólio, pedidos de divisão e até incentivos ao despedimento de alguns responsáveis marcaram a audição da Ticketmaster no Senado. Um dos responsáveis pela plataforma de vendas de bilhetes para espetáculos ao vivo foi esta terça-feira ao coração da democracia norte-americana prestar contas sobre o que aconteceu com a venda de bilhetes para a digressão “Eras”, da cantora Taylor Swift.
A 15 de novembro de 2022, aproximadamente 14 milhões de utilizadores rumaram ao site da Ticketmaster para comprar bilhetes para os concertos da cantora nos Estados Unidos, mas “só” foram vendidos 2,4 milhões de bilhetes para os mais de 50 concertos, todos em estádios. Poderia ser apenas um caso de excesso de procura, mas não foi. Nesta pré-venda era necessário um código específico para prosseguir com a compra e muitos dos fãs não conseguiram (acaba por aumentar os preços dos bilhetes no mercado secundário). A Ticketmaster acabou por cancelar as vendas gerais para as restantes datas, alegando uma “extraordinária pressão nos sistemas” e “inventário de bilhetes insuficientes”.
Se os fãs não gostaram, a cantora muito menos, criticando a empresa e recordando ter perguntado à Ticketmaster se conseguia aguentar a procura, tendo recebido respostas afirmativas. Na imprensa internacional, falava-se num “fiasco” com os bilhetes de Taylor Swift. Os fãs uniram-se e decidiram pressionar a empresa. Rapidamente o caso ganhou projeção e não foi preciso muito até chegar aos poderes políticos.
Swiftonomics. Será Taylor Swift a conseguir quebrar o alegado monopólio da Ticketmaster?
Joe Berchtold, diretor financeiro da Live Nation, a dona da Ticketmaster, foi agora ao Senado responder a questões sobre o que se passou nesta venda, que deu novo fôlego às acusações de que a empresa alegadamente faz uso do monopólio do mercado de venda de bilhetes. As críticas existem desde 2010, quando aconteceu a fusão entre a Live Nation e a Ticketmaster – o negócio foi investigado na altura, mas acabaria por ter luz verde.
Durante a audição, que durou cerca de três horas, Berchtold pediu desculpas aos “fãs e desculpas à senhora Swift”. “(…) Temos de fazer melhor e vamos fazer melhor”, prometeu. “Em retrospetiva há várias coisas que devíamos ter feito melhor – incluindo fazer as vendas ao longo de um maior período de tempo ou fazer um trabalho melhor em perceber as expectativas dos fãs em relação aos bilhetes”.
Mas as desculpas e promessas não terão deixado os senadores satisfeitos, levando Berchtold a ouvir acusações, tanto de democratas como de republicanos, de a empresa ser um monopólio. “A Ticketmaster devia olhar-se ao espelho e dizer ‘sou o problema, sou eu’”, defendeu o senador democrata Richard Blumenthal, recorrendo a uma conhecida letra de uma das músicas de Swift.
Os senadores criticaram os problemas da Ticketmaster com “bots”, que não só esgotam rapidamente os bilhetes como também inflacionam os preços nos mercados secundários, onde, aliás, a empresa também tem subsidiárias. A senadora republicana Marsha Blackburn, por exemplo, disse que o problema da empresa com “bots” era “inacreditável”, dizendo inclusive que empresas mais pequenas conseguiam limitar melhor a atividade dos “bots” nos seus sistemas do que uma gigante como esta.
Além da dificuldade de funcionamento com a plataforma e dos “bots”, também as taxas são um desafio para quem compra bilhetes. “Se se preocupam com os consumidores, baixem os preços, eliminem os ‘bots’. Cortem nos intermediários se se preocupam com o consumidor, deem algum descanso ao consumidor”, disse o republicano John Kennedy.
Além dos senadores e da própria Ticketmaster, houve participação de outros atores do setor dos espetáculos, como o presidente da JAM Productions, Jerry Mickelson, que tem sido um acérrimo crítico da empresa.