O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, alertou esta sexta-feira para a ameaça crescente colocada por grupos neonazis e supremacistas brancos e reclamou medidas urgentes para conter a propagação deste tipo de ideologia na internet.

Faço um apelo urgente a todas as pessoas com influência no ecossistema da informação, reguladores, legisladores, empresas tecnológicas, meios de comunicação, sociedade civil e governos: detenham o ódio”, afirmou Guterres, durante um discurso, a pretexto do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.

O chefe da ONU exigiu que se estabeleçam limites e se obrigue ao seu cumprimento, no momento em que, disse, “muitas partes da internet estão a converter-se em vazadouros de desejos tóxicos para o ódio e as mentiras cruéis”.

Guterres, que já tinha pedido regulações neste particular, criticou as empresas que ganham dinheiro “levando o extremismo das margens para o grande público“.

De forma concreta, denunciou: “Ao usarem algoritmos que amplificam o ódio para manter os utilizadores agarrados aos écrans, as plataformas das redes sociais são cúmplices, tal como os anunciantes que subsidiam este modelo de negócio”.

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O diplomata português destacou a facilidade com que os discursos de ódio se convertem em crimes e a violência verbal se transforma em física.

Os movimentos neonazis e supremacistas brancos estão a ficar mais perigosos de dia para dia. Com efeito, já representam a principal ameaça à segurança interna em vários países e a que mais cresce”, realçou.

Guterres recordou os numerosos ataques perpetrados no mundo nos últimos anos por pessoas com este tipo de ideologia.

Não estamos a ver só extremismo violentos: enfrentamo-nos cada vez mais com terrorismo”, realçou, garantindo que entre os principais fatores do crescimento desta “ameaça global” está a internet.

Guterres fez ainda um paralelismo entre o mundo atual e o que permitiu o surgimento da Alemanha nazi: “Hoje podemos ouvir os ecos desses mesmos cantos de sereia ao ódio”.

De forma mais detalhada, descreveu: “Uma crise económica que gera descontentamento, demagogos populistas que usam a crise para seduzir os votantes, desinformação sem limites, teorias da conspiração paranoicas e discursos de ódio desenfreados”.

Em resultado, prosseguiu, assiste-se “a um crescente desprezo pelos direitos humanos e o Estado de Direito, ao crescimento de ideologias supremacistas brancas e neonazis, a tentativas de reescrever a história e reabilitar colaboracionistas e ainda a um auge do antissemitismo e outras formas de intolerância e ódio religioso”.

Neste contexto, terminou, a recordação do Holocausto deve servir para “uma chamada a estar em alerta constante” e a “nunca guardar silêncio face ao ódio. Nunca ser tolerante com a intolerância nem indiferente ao sofrimento de terceiros”.