Apesar rejeitar um cenário de eleições antecipadas, uma vez que o governo “tem todos os instrumentos na mão, incluindo a maioria absoluta” para cumprir e “dar respostas aos problemas das pessoas”, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, não tem dúvidas: “Das duas três, ou cede no bom sentido e dá resposta ou não tem alternativa e tem de sair”.
Em declarações aos jornalistas, em Beja, durante as jornadas Parlamentares do PCP, Paulo Raimundo fez um balanço “claramente” negativo do Governo do PS, um ano depois de ter conquistado a maioria absoluta: “O resultado está à vista”, apontou. Para o PCP, o Governo “não está a dar respostas que a população precisa”, enquanto permite a “uns poucos encher à grande e à francesa e concentrar largos milhares” de euros, com a escalada da inflação. “As pessoas não podem continuar a ser apertadas como estão e ficarem sem reação, têm que reagir”, avisou.
Questionado sobre o que espera ouvir da entrevista de esta segunda-feira ao primeiro-ministro, Paulo Raimundo deixou um conselho: “O governo não se pode concentrar no problema dos casos, uma vez que é preciso dar resposta aos problemas das pessoas, então que dê. Que fixe os preços dos bens essenciais, não faz porque não quer”.
Noutra linha, Paulo Raimundo acredita que a extinção da secretaria de Estado da Agricultura é “uma opção errada do Governo” e questionado sobre se o primeiro-ministro não encontrou alguém que passasse nas 36 perguntas do questionário para os novos governantes, o comunista sugeriu apenas espera que esse não seja o caso: “Se não tínhamos aqui um problema muito grave, íamos deixar de ter secretarias de Estado, ou talvez Ministérios”.
Governo “insiste em opções erradas”
Antes de se dirigir aos jornalistas, o líder do PCP criticou a realidade nacional “marcada pela ação de um Governo que insiste em opções erradas”, que “opta por não enfrentar” o aumento do custo de vida e a perda de poder de compra “imposta por uma inflação insuportável”. Numa intervenção que marcou o arranque das jornadas parlamentares comunistas, Paulo Raimundo responsabiliza a atual situação com as medidas do governo do PS — mas também “com o apoio e aplauso do PSD, Chega e Iniciativa Liberal”.
Apontou exemplos que são caros aos comunistas, como os CTT e a TAP: “Veja-se a TAP. Sabemos bem o que a direita quer com estas comissões de inquérito. Está desejosa de ver mais esta empresa, a maior exportadora nacional, estratégica, com um potencial único, nas mãos dos grupos multinacionais.”
Paulo Raimundo não se esqueceu de apontar a “grande dose de cinismo” do governo que vem dizer que “não consegue resolver a guerra e a inflação”. E volta a pedir ação ao executivo de António Costa: “O governo pode aumentar os salários, pensões e apoios sociais. Mas não o faz. Em 2022, a subida dos preços foi igual à soma dos dez anos anteriores”.
Ainda sobre a guerra na Ucrânia, líder comunista exigiu ao governo que “cumpra a Constituição” que leve por “diante uma ação pela paz com vista ao fim dos conflitos”. “Mas o Governo não o faz. Prefere ser porta-voz daqueles que alimentam a guerra e adicionam gasolina ao fogo”, criticou o comunista.
Um ano da “maioria que não está a resolver os problemas da população”.
Antes do discurso de Paulo Raimundo, coube a Paula Santos, líder do grupo parlamentar do PCP apresentar os objetivos das jornadas parlamentares. Depois de sair da estação de comboio de Beja, a deputada foi questionada sobre a atualidade nacional, no dia em que se assinala um ano desde as últimas eleições legislativas. O PS conquistou a maioria absoluta a 30 de janeiro de 2022.
E a lição, para Paula Santos, é só uma: “Deixa bem claro que a maioria absoluta não está a resolver os problemas da população. E as consequências estão aí à vista”. De dedo apontado à maioria socialista, a líder da bancada comunista acusou o PS (com a “cumplicidade de PSD, Chega, Iniciativa Liberal e CDS”) de tomar medidas que levam ao aumento “dos grupos económicos” em vez das propostas do PCP, de “valorizar salários e pensões, travar o aumento dos preços, investir no SNS e na habitação”.
“A realidade dá-nos razão de não acompanhar a proposta de Orçamento de Estado para 2022. Hoje a situação agravou-se”, argumentou Paula Santos. Depois de uma viagem de comboio de Lisboa até Casa Branca e depois de Casa Branca até Beja, Paula Santos anunciou que o PCP vai marcar um debate de atualidade sobre a ferrovia para questionar o Governo sobre as dificuldades dos portugueses.
A ferrovia, ainda assim, não foi o único meio de transporte discutido. O aeroporto de Beja e o seu papel para a região foi um dos focos em cima da mesa. E apenas dias depois de Beja voltar a entrar na lista de possíveis localizações para novo aeroporto da região de Lisboa, Paula Santos foi clara: a solução “Alcochete” está encontrada e “consensualizada” e o “aeroporto de Beja tem potencialidades por si, que devem ser colocadas ao serviço da região e do país”, antes de apontar o dedo à privatização da ANA Aeroportos: “Têm sido colocados obstáculos em cima de obstáculos ao desenvolvimento das infraestruturas do país”.