Quando a advogada Raquel Sampaio e três outros juristas decidiram criar a associação Direito Mental já tinham sentido na pele o estigma do que é sofrer de doença mental no meio profissional. Por esta altura a International Bar Association (IBA), que reúne advogados de todo o mundo, promovia um estudo, com resultados publicados em 2021, que mostrava que a realidade não era apenas sentida por eles: 41% dos advogados inquiridos nem sequer partilhavam com a entidade patronal questões relacionadas com o seu bem estar mental por temerem um impacto negativo na sua carreira e um em cada três profissionais considerava mesmo que o trabalho tinha um impacto negativo neste trabalho.

“Ainda há um estigma imenso, em países tão díspares como o Reino Unido, os Estados Unidos ou o Peru”, explicou ao Observador Raquel Sampaio, que também ela passou por um período de pressão ao longo da sua carreira “que não foi compreendido”.

Mas e os outros profissionais como ela em Portugal? Com várias ações de sensibilização pelo país a contar as suas histórias e a mostrar vários estudos internacionais na área da saúde mental, Raquel Sampaio e os fundadores da Direito Mental decidiram que precisavam de fazer mais. “Não queríamos ficar pelos achismos”, afirma a advogada. Por isso decidiram promover um estudo em Portugal para perceber o que sentem e como estão os 33 mil advogados inscritos na Ordem dos Advogados e todos os juristas que prestem serviços em entidades públicas e privadas.

Assim, em parceria com o ProChild CoLAB e o Centro de Investigação em Psicologia da Universidade do Minho (CIPsi), a Direito Mental promove agora um estudo pioneiro para analisar a saúde mental da comunidade jurídica portuguesa.

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“O impacto da cultura organizacional na saúde mental e bem-estar dos profissionais do Direito”, analisará a saúde mental e o bem-estar dos profissionais do Direito e o impacto no seio familiar, sinalizando a necessidade de intervenção psicoterapêutica para os casos em que surjam indicadores de perturbações psicológicas.

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“Com este estudo, teremos um panorama muito completo do estado da saúde mental e do bem-estar do setor, conseguindo avaliar, com dados fidedignos, a real dimensão de questões como o burnout, o impacto e a implementação do teletrabalho, a ansiedade, o bem-estar financeiro, a satisfação com o trabalho, a conciliação trabalho-família e o stress parental”, lê-se no comunicado da Direito Mental.

Segundo Raquel Sampaio, o estudo será feito de forma anónima, online, através de um link que estará disponível a partir desta segunda-feira durante quatro meses (6 de fevereiro a 6 de junho). Os resultados serão conhecidos em setembro.

“Nós gostávamos de atuar antes da doença, na parte em que há sintomas, ansiedade, depressão”, diz Raquel Sampaio, que apela a todos os advogados e juristas para responderem ao questionário, até para se aperceberem de possíveis sinais.

Os questionários usados neste estudo, porém, não permitem diagnosticar problemas de saúde mental. Ainda assim, no final, será disponibilizada a cada participante uma mensagem de feedback para “as dimensões da depressão e ansiedade, bem como uma breve lista de recursos para apoio psicológico, a que poderá recorrer se necessário”, alerta o texto do questionário.

A participação no estudo implica a resposta a um conjunto de questionários disponíveis na plataforma online ProChildForms. O preenchimento dos questionários deverá ter uma duração máxima de 10 minutos. Se for advogado inscrito na Ordem dos Advogados ou jurista a trabalhar num organismo público ou privado e quiser participar anonimamente neste estudo clique aqui.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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