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23 de fevereiro de 2022. Na noite que antecedeu o princípio da guerra na Ucrânia, Kyrylo Budanov olhava ansiosamente para o relógio, em contagem decrescente até às 4h00 – a hora que tinha apontado como o início da invasão. “Parece estranho, mas estava com medo que não acontecesse”, confessou ao Washington Post.
É compreensível: a sua reputação estava em jogo. Budanov foi o único dentro da Ucrânia a prever uma invasão russa em larga escala, contrariando o ceticismo dos responsáveis políticos em Kiev que apenas acreditavam numa invasão do leste da país, onde os confrontos já decorriam desde 2014.
O chefe dos serviços secretos ucranianos não se enganou; a Rússia invadiu mesmo, e desde então Kyrylo Budanov tornou-se uma figura extremamente influente no círculo de Volodymyr Zelensky – de tal forma que já é apontado como novo ministro da Defesa — apesar de o Presidente ucraniano já ter posto água na fervura, com uma publicação no Telegram em que pede um fim à especulação sobre a eventual troca de ministros.
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O jovem general que sobreviveu a 10 atentados
Nascido em Kiev em 1986, Budanov é, aos 37 anos, um dos mais jovens generais da história militar da Ucrânia. No Ocidente, por exemplo. só costumam chegar ao seu posto militares na casa dos cinquenta.
Depois de completar a formação militar em 2007, Budanov começou a trabalhar no Ministério da Defesa, integrando o serviço de inteligência da tutela, o GUR. A sua ascensão na hierarquia militar ucraniana começou em 2014, com a anexação da Crimeia e os subsequentes conflitos separatistas no leste do país.
Apesar de o seu papel nunca ter sido confirmado, terá participado em várias operações secretas no território inimigo; em 2016, terá sido um dos operativos ucranianos envolvidos no assassinato de um importante tenente-coronel russo na Crimeia. Foram estas ações que lhe valeram, em 2020, a promoção a líder do GUR.
O próprio mantém os detalhes do seu envolvimento vagos, mas não esconde as consequências. “Algo aconteceu – e todos os atentados contra a minha vida começaram a partir daí”.
Fontes próximas do do chefe de inteligência afirmam que este já foi alvo de, pelo menos, 10 atentados. O mais visível aconteceu em 2019, quando o seu carro explodiu depois de ser armadilhado com uma bomba por um homem que viria a ser identificado como um agente russo.
Budanov sobreviveu a esse ataque, mas todo o cuidado é pouco, razão que leva o chefe de inteligência ucraniana a viver uma vida extremamente cautelosa, maioritariamente a partir do seu escritório de trabalho, de onde raramente sai. Tal não significa que o o seu envolvimento com as operações das forças ucranianas tem diminuído, pelo contrário: ainda em outubro, o Kremlin identificou-o como um dos responsáveis pela explosão que danificou a ponte da Crimeia.
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Discutindo os ataques que têm causado estragos bem para lá das linhas inimigas (e que a Ucrânia nunca reivindicou de forma oficial), Budanov ainda assim gaba-se de que estas operações “mostraram a nossa capacidade de alcançar terreno muitos quilómetros para lá do que [os russos] julgavam sermos capazes”.
Como alguém cuja notoriedade se cimentou por conseguir prever a guerra, é natural que a opinião de Budanov seja tida em conta em Kiev no que toca a antever o futuro do conflito. Aqui, mais uma vez, o homem agora apontado ao Ministério da Defesa duvida do consenso generalizado – nomeadamente no que toca à possibilidade de uma nova investida russa em larga escala. Em vez disso, diz que Moscovo estará focado em ocupar mais territórios no leste, particularmente em Donetsk e Lugansk.
Budanov parece ainda acreditar que as forças ucranianas estão numa corrida contra o tempo, e que a prioridade deverá ser a de reconquistar a Crimeia até ao verão deste ano. Quanto à ameaça russa de um ataque nuclear em resposta a uma putativa ofensiva ucraniana na península, é taxativo: “A Rússia é um país do qual podemos esperar muita coisa, menos serem idiotas. Desculpem, mas não vai acontecer. Um ataque nuclear resultará não só numa derrota militar como no colapso da própria Rússia. E eles sabem-no bem”, declara.
Quanto a Vladimir Putin, Budanov tem também uma previsão: a de que o Presidente russo estará às portas da morte. O chefe de inteligência ucraniano é um dos maiores defensores da ideia de que Putin sofre de cancro e não terá muito tempo de vida – apesar de outras agências, como a norte-americana CIA, terem já posto água na fervura quanto a essa teoria. Apesar disso, o responsável ucraniano mantém-se confiante nas informações ao seu dispor, justificando que “haverá sempre dúvidas por parte de terceiros”.
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Ainda assim, o suposto próximo ministro da Defesa de Zelensky parece, acima de tudo, estar ciente da sua falibilidade. “Quão eficaz eu sou nesta posição provavelmente só se tornará evidente para os historiadores no futuro. Não sou capaz de fazer eu próprio uma avaliação objetiva. O tempo o dirá”.