Satya Nadella, o CEO da Microsoft, já tinha avisado que a tecnológica queria incluir inteligência artificial (IA) num leque alargado de serviços. Esta terça-feira, num evento que gerou alguma surpresa pela comunicação feita no dia anterior e pela ausência de transmissão online, a tecnológica revelou que a IA vai chegar ao motor de pesquisa Bing e ao navegador Edge.
“Acreditamos que é tempo de uma nova abordagem à pesquisa”, explicou Yusuf Mehdi, vice-presidente da Microsoft responsável pela área de pesquisa e dispositivos, que defendeu que o paradigma da pesquisa, mercado que é dominado pela Google, “tem mudado pouco nos últimos 20 anos”. Durante a apresentação, que foi seguida ao minuto por vários meios norte-americanos, este não foi o único recado deixado à empresa de Sundar Pichai. Aliás, Satya Nadella foi bastante direto, ao declarar que se este é “um novo dia para a pesquisa” e que a corrida” pelo domínio na área da inteligência artificial “começa hoje”, num claro desafio à rival Google.
Neste novo Bing e no Edge, a empresa quer que a “IA seja um copiloto para a web”. Esta navegação inundada de inteligência artificial vai acontecer graças à parceria a longo prazo entre a tecnológica e a OpenAI. Em 2019 a Microsoft investiu mil milhões de dólares na empresa e, já este ano, anunciou um investimento multimilionário na responsável pelo popular serviço ChatGPT.
Microsoft confirma que vai investir “vários milhares de milhões” na criadora do ChatGPT
O Bing da Microsoft, que é o segundo motor de pesquisa mais usado do mercado, com uma quota de mercado de 9%, vai passar a conseguir responder a questões mais complexas. Este “novo Bing”, como lhe chamou a empresa, vai recorrer a um modelo de linguagem desenvolvido pela OpenAI especificamente para a área da pesquisa. A empresa defende que será mais poderoso do que o ChatGPT, mas sem especificar se se trata do GPT-4 ou não (o ChatGPT funciona a partir do modelo GPT-3.5).
Nas demonstrações feitas pela empresa – todas pré-gravadas – a Microsoft mostrou pesquisas complexas no Bing, que vai passar a aceitar perguntas de até mil caracteres. Por exemplo, se estiver com dúvidas sobre se uma poltrona da Ikea já montada cabe no seu carro com os bancos rebaixados, a IA vai conseguir procurar as medidas do objeto no site da loja e comparar com as medidas do modelo que indicar. A resposta surgirá em texto.
Mas tem outros truques. Se estiver com dúvidas entre três modelos de aspiradores, em vez de abrir sites de comparação, poderá simplesmente perguntar quais são os prós e contras de cada um. Pelo exemplo visto pelo The Verge, tudo surgirá organizado numa lista na lateral da página do browser.
Na apresentação também foi revelada uma ferramenta de chat que ficará num separador ao lado da pesquisa. A ideia é que nesta área se converse com a IA do Bing se precisar, por exemplo, de ajuda para encontrar um modelo de televisor. A empresa explicou que podem ser perguntas adicionais, como “que modelo é melhor para quem quer jogar”.
A ferramenta Chat vai ainda ajudar a preparar viagens. Se, hoje em dia, quando estamos a escolher um destino procuramos na internet por dicas ou relatos de determinado local, o Bing vai conseguir aceitar pedidos mais diretos, como “prepara um itinerário de viagem para cinco dias no México para uma família”. A partir dessa resposta, pode ser também pedido que se traduza para outro idioma a informação e até que envie por email.
Quem não quiser ter de abrir uma página do Bing para usar esta ferramenta de chat, vai ter um ícone dedicado na lateral do Edge. No browser, as competências da IA da OpenAI vão ser algo diferentes. Se tiver um PDF de várias páginas aberto no navegador e que precisa de resumir, basta deixar essa indicação ao “copiloto” de IA para rapidamente receber o resumo. O exemplo partilhado pela Microsoft foi o de um resumo de um relatório com as contas trimestrais de uma empresa, onde era não só apresentado um resumo com o principal da informação e ainda perguntas adicionais propostas pela IA.
A tecnológica diz que a nova interface do Bing começará a ser lançada de forma global mas a um ritmo lento. A partir desta terça-feira, vai ser possível experimentar esta novidade num teste limitado.
Aparentemente, a Microsoft não tem planos para ter esta pesquisa com IA como um exclusivo. “A nossa intenção é a de levá-la a todos os navegadores. Estamos a começar com o Edge. O Chrome tem de implementar algumas coisas para fazer com que funcione, mas a nossa intenção é a de que esteja em todos os navegadores”, disse Yusuf, citado pelo The Verge.
Esta segunda-feira, a Google já deixou uma resposta à Microsoft e à OpenAI, com o anúncio do Bard, um serviço conversacional baseado no modelo de inteligência artificial desenvolvido pela Google, o LaMDA.