O tratamento psicológico não é “garantia absoluta” de que os abusadores sexuais não reincidam no crime, alertou a vice-presidente da Ordem dos Psicólogos, para quem a aposta deve ser na prevenção e na educação das potenciais vítimas.
Renata Benavente disse à Lusa que existe tratamento para abusadores sexuais, com técnicas específicas para que estas pessoas não voltem a reincidir na prática criminal e naquele tipo de comportamentos.
Segundo a responsável, apesar de não existir um perfil específico de abusador, “a partir do momento em que se deteta que há esta tendência ou que houve já a prática deste tipo de atos, é possível desenvolver nestas pessoas competências que impeçam que voltem a praticar abusos relativamente a crianças ou jovens“.
Renata Benavente admitiu que não é possível dar “garantias absolutas” de que o tratamento impede que o abusador volte a cometer crimes sexuais, defendendo que “o que é viável é fazer intervenção ao nível dos impulsos desta natureza e depois ir monitorizando este tipo de pessoas”.
Estas pessoas devem ser monitorizadas e nos casos mais complexos impedidas de contactar com crianças ou jovens”, defendeu a responsável, lembrando que há uma lista dos abusadores sexuais referenciados e que a lei portuguesa já obriga a que quem exerça atividades com crianças ou jovens não tenha sido condenado por este tipo de crime.
Na opinião da vice-presidente da Ordem dos Psicólogos, “a grande estratégia passa pela prevenção” e por “dar treino às crianças e jovens e às potenciais vítimas para que possam detetar este tipo de situações”.
Renata Benavente lembrou que “são crimes de natureza muito complexa“, em que normalmente há ascendente do abusador em relação à criança, sendo muitas vezes uma figura de referência, o que torna “muito difícil” para “gerir esta dinâmica de foro emocional com as práticas abusivas”.
É fundamental dar esta formação às crianças, numa lógica de prevenção. Por exemplo, com mensagens sobre quem pode tocar nas partes intimas, o que é um toque adequado e o que é um toque menos adequado e alertar as crianças para isso”, apontou a responsável, acrescentando que “isso pode ser feito logo desde a idade pré-escolar e ao longo de todo o processo de desenvolvimento”.
Para a responsável, isso serviria para que, “na eventualidade de estarem sujeitas a uma situação deste tipo, possam revelar aí pôr-se um travão a este tipo de casos”.
Disse ainda que este trabalho preventivo e de educação para uma sexualidade saudável deve ser feito tanto na família como em contexto escolar ou em equipamentos de apoio à infância, “por profissionais habilitados para tratar destas questões com as crianças”.
Na segunda-feira foi conhecido o relatório final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja, que recebeu 512 testemunhos validados, o que permitiu a extrapolação para a existência de um número mínimo de 4.815 vítimas nos últimos 72 anos.
Os dados apresentados revelaram que 97% dos abusadores eram homens e em 77% dos casos padres, além de que em 47% dos casos o abusador fazia parte das relações próximas da criança.