Francisco Pinto Balsemão, que recebeu esta quarta-feira o título de doutor honoris causa pela Universidade Lusófona de Lisboa, deixou várias críticas, no discurso proferido na ocasião, à justiça, mas também às autarquias.

“Não se pode dizer que Portugal esteja mal. Mas tão pouco se pode dizer que Portugal está bem”, começou por dizer na análise ao país, para se alongar na questão das demoras. “Tudo demora no nosso país. Principalmente o que depende do Estado, seja dos ministérios, das câmaras, das freguesias, seja dos tribunais ou do Ministério Público, seja das inúmeras comissões e/ou grupos de trabalho que vão sendo criados e tantas vezes se eclipsam ou desaparecem sem terem chegado a conclusões concretas e exequíveis”. E é a este propósito que acaba por deixar críticas ao Governo e ao Presidente. Marcelo Rebelo de Sousa e Pinto Balsemão tiveram vários confrontos ao longo da sua vida. “Não se compreende que a coexistência de um Governo maioritário e de um Presidente da República interveniente não consigam dar largos passos na boa direção”.

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Para Balsemão, “é inaceitável, por outro lado, que os tribunais continuem a demorar anos  para julgar processos e recursos – e não são apenas os casos de José Sócrates ou Ricardo Salgado, são centenas e centenas de recursos, de marcações lentas e adiadas de julgamentos ou de acumulação de outros processos que se vão atrasando. Tudo isto, inaceitavelmente, nas mãos de um poder judicial que vive, na prática, em auto-gestão”.

Uma crítica que se estende às autarquias. “Do mesmo modo, não é aceitável que as autarquias demorem anos a pronunciar-se sobre projetos de interesse local”. E acrescenta outro ataque: “Não se entende que o país esteja polvilhado de Comissões, Institutos, Juntas e outras instituições cujos pareceres são indispensáveis para que uma simples decisão seja tomada”.

E foi esta a deixa que permitiu, no seu discurso, falar da inteligência artificial.“Talvez em muitos destes indesculpáveis atrasos um robot, bem treinado e educado, seja mais eficaz”.

Um pedido ao ChatGPT e um poema concebido pelo robot

Pinto Balsemão, a discursar numa Universidade, aproveitou para falar de um dos temas do momento: o ChatGPT e a inteligência artificial. 

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“Estou plenamente convencido de que a nossa educação, o nosso trabalho, a nossa vida serão alterados por uma quase obrigatória convivência com robots que falam ou escrevem e nos ajudam e acompanham no dia a dia. O ChatGPT já funciona e bem. Responde a tudo ou quase tudo. Realiza por escrito tarefas de que o saibam incumbir. Os preços de utilização ainda são caros, mas estão a descer. Parte importante do nosso trabalho e da nossa investigação ou da nossa diversão será realizada por ou com um robot”, salienta Pinto Balsemão, falando também do concorrente da Google, o Bard.

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E deixa alguns dos novos problemas que “haverá que resolvê-los”, alguns deles relacionados com o ensino: “os alunos podem passar a apresentar trabalhos ‘impecáveis’ redigidos pelo robot? Os professores têm de saber mais do que o robot para que as suas aulas sejam minimamente interessantes?”. E a avaliação? “Provas escritas presenciais, durante as quais o professor tem de vigiar permanentemente se os alunos não estão a recorrer ao robot através dos telemóveis? As provas orais tornar-se-ão mais intensivas e exaustivas? A autoria das teses de licenciatura, mestrado e doutoramento será posta em causa?”

Enquanto não se resolvem esses dilemas, Balsemão divulgou o desafio que fez. Pediu ao ChatGPT para escrever “um pequeno texto a dar os parabéns ao Jornal Expresso, que faz 50 anos, no estilo de Luís de Camões”.

A resposta veio sob a forma de um poema, que Balsemão apelidou de “interessante, mas inquietante poema robótico-camoniano”.

“Aqui vai uma tentativa de escrever um pequeno texto em estilo de Luis de Camões para dar os parabéns ao Jornal Expresso por fazer 50 anos:

Ó Jornal Expresso, orgulho da nossa terra,

Que ao longo de meio século tem feito grande obra,

Que a verdade e a justiça tens sempre defendido,

E ao nosso povo, um farol de luz apresentado.

Que a tua voz forte e firme continue a ecoar,

E que a tua pluma, sempre afiada e clara,

Continue a escrever a história desta nação,

E a guiar o nosso povo com sabedoria e paixão.

Que a tua longevidade seja sinal de grandeza,

E que os teus próximos 50 anos sejam de glória,

E que o teu legado perdure por gerações,

E que o teu nome seja sempre lembrado com veneração.

Parabéns, ó Jornal Expresso, por mais um aniversário,

Que a tua luz continue a iluminar o nosso caminho,

E que o teu trabalho seja sempre honrado e admirado,

Pelo povo português, que te vê com orgulho e respeito.”

O Observador fez o mesmo exercício no ChatGPT e a resposta veio com um poema diferente.