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“O Big Brother está a observar-te”. A frase estilo orwelliana que Olesya Krivtsova tatuou na perna esquerda, acompanhada de uma imagem do Presidente russo no corpo de uma aranha, não está muito longe da verdade. A jovem universitária, de 20 anos, só se apercebeu do quanto no dia em que agentes da polícia russos irromperam pela sua casa e a levaram presa. Desde então está em prisão domiciliária, com pulseira eletrónica, proibida de falar ao telefone ou usar a internet e pode enfrentar uma pena de prisão de até dez anos, sob acusações de terrorismo e de desacreditar as Forças Armadas russas.
“Nunca imaginei que alguém pudesse enfrentar uma pena de prisão tão longa por publicar algo na internet”, admitiu Olesya Krivtsova, estudante da Universidade de Arkhangelsk, em entrevista à BBC.
A jovem revelou à emissora britânica que tudo começou depois de partilhar na conta de Instagram uma publicação sobre a explosão da Crimeia — descrita pelo Kremlin como um ato terrorista das forças de Kiev — e, mais tarde, divulgar um post de uma amiga sobre a guerra na Ucrânia.
Explosão na ponte da Crimeia foi um ataque terrorista da Ucrânia, acusa Vladimir Putin
Krivtsova nunca pensou que os conteúdos levassem a polícia à sua porta no final de dezembro de 2022.”Estava ao telefone com a minha mãe quando ouvi a porta da frente a abrir-se. Entraram muitos polícias. Tiraram-me o telemóvel e gritaram para que me deitasse no chão”, recordou.
A estudante universitária descobriu, entretanto, que foi através de alguns colegas da faculdade que as autoridades foram informadas do seu caso. A decisão terá sido tomada através de um grupo de chat onde discutiram a possibilidade de a denunciar. “É o dever de um patriota”, escreveu um dos alunos, segundo as imagens da conversa a que a BBC que teve acesso.
Neste momento a jovem, que já tinha sido multada em 30,000 rublos por distribuir panfletos anti-guerra, aguarda em prisão domiciliária uma conclusão do seu caso. Já foi, entretanto, adicionada à lista russa de terroristas e extremistas, na qual estão incluídos grupos como o ISIS ou o Al Qaeda.
Quando percebi que tinha sido colocada na mesma lista que os atiradores nas escolas e do Estado Islâmico eu pensei que era uma loucura”, disse Krivtsova à BBC.
Para a estudante, o seu caso demonstra que o Estado não tem coragem para se abrir a debates, à democracia ou à liberdade, mas deixa o aviso: “Não podem pôr todos na prisão. A certo ponto vão ficar sem celas”.
Desde o início da invasão da Ucrânia, as autoridades russas apertaram o cerco em torno das manifestações públicas contra a guerra. Segundo a organização independente OVD-Info, que monitoriza os direitos humanos na Rússia, há cerca de 443 pessoas suspeitas e condenadas por crimes anti-guerra, incluindo Krivtsova.
Rússia condena jornalista a seis anos de prisão por criticar a guerra
Num caso semelhante, um tribunal russo condenou esta quarta-feira uma jornalista a seis anos de prisão por ter criticado na rede social Instagram a ofensiva russa contra a Ucrânia. Maria Ponomarenko foi considerada culpada de “disseminar informações falsas” sobre as Forças Armadas russas.