Já dava um pouco para tudo. Roger Schmidt continuava concentrado na zona técnica com aquela cara que não é de amigo mas também não é propriamente de quem está zangado, mas os jogadores que estavam no banco de suplentes já interagiam de forma descontraída, aqueles que tinham entrado continuavam com a corda toda à procura de mais golos e o presidente Rui Costa, na zona dos camarotes, já acompanhava de forma bem visível os cânticos dos muitos adeptos encarnados presentes no Jan Breydelstadion. A vitória do Benfica na Bélgica frente ao Club Brugges deixou os encarnados com pé e meio na segunda presença nos quartos da Liga dos Campeões mas alguns já começam a pensar mais à frente perante o rendimento que a equipa apresenta na principal competição europeia. O técnico não alinha nisso. Aursnes também não.

O passeio de Super Mario e companhia entre os canais da Veneza do Norte (a crónica do Club Brugge-Benfica)

O médio norueguês voltou a ser titular, voltou a fazer os 90 minutos e voltou a ser considerado o MVP do jogo para a UEFA, com um pormenor que não passou ao lado nem sequer da realização: enquanto estava a tirar fotografias com o prémio, Aursnes nunca deixou de apontar para o símbolo do Benfica, clube onde chegou apenas no verão vindo do Feyenoord mas com quem tem criado cada vez maior empatia.

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“Foi um resultado muito bom para nós, uma boa primeira mão mas temos mais um jogo e temos de dar tudo. O que disse o treinador ao intervalo? O Club Brugge esteve muito bem na primeira parte, especialmente no começo. Temos de ser agressivos. Sinto que reagimos bem, talvez após os primeiros 25 minutos e também na segunda parte”, apontou o escandinavo na zona de entrevistas rápidas da Eleven, antes de voltar a baixar a fasquia ao realismo avesso a qualquer sonho mais ambicioso. “Adeptos podem sonhar? Vamos ter um jogo ainda, vamos jogo a jogo e veremos. Se o grupo acredita? É ir jogo a jogo, vamos dar o nosso melhor e logo veremos o que conseguimos”, destacou o médio sobre a eliminatória e as próximas fases.

Também Roger Schmidt alinhou pelo mesmo diapasão, elogiando a exibição da equipa mas mantendo a cautela em relação à eliminatória. “Quando se joga fora de casa a primeira mão de uma eliminatória e se ganhar é um primeiro passo muito bom. Estamos no intervalo, é apenas 50%. Mostrámos que acreditamos em nós mesmos. No início tivemos algumas dificuldades, o Club Brugge fez muita pressão, teve alguns momentos na área e tivemos de defender na zona vermelha mas mesmo aí mostrámos qualidade. No fim da primeira parte, controlámos a partida e fomos para frente, conseguimos criar oportunidades. Poderíamos ainda ter marcado na primeira parte. Na segunda, viemos bem, marcámos o penálti. Foi muito importante marcar o segundo golo”, referiu na zona de entrevistas rápidas da Eleven após o encontro.

Mais tarde, e perante a possibilidade de o Benfica chegar de novo a uma final europeia, o alemão foi bem mais cauteloso. “É um caminho muito longo. Passo a passo, temos de recuperar e focarmo-nos no jogo seguinte. Por agora, a Liga dos Campeões está em suspenso. Daqui por duas semanas jogamos no nosso estádio. Precisamos de outro grande desempenho na Luz. Depois, há o Campeonato. Claro que queremos ser campeões europeus mas não podemos ganhar 14 jogos seguidos. Por isso, temos de ir passo a passo”, comentou o alemão, colocando o foco europeu apenas na passagem aos quartos da Champions.

O caminho ainda pode ser longo mas os feitos dos encarnados na Liga dos Campeões continuam a suceder-se, neste caso a vários níveis: foi a primeira vez que uma equipa portuguesa ganhou a primeira mão fora numa fase a eliminar da prova, foi o sétimo encontro consecutivo fora na Champions sem derrotas e, num registo histórico, foi a primeira vez que esteve sete jogos seguidos sem perder na Liga milionária, somando nesta fase cinco vitórias e dois empates (com o PSG). Em paralelo com esses dados, esta foi também a primeira vez nos últimos 17 anos que os encarnados somaram três vitórias seguidas na prova.