A tecnologia tem o condão de ser feita para resolver problemas. Mas, ao mesmo tempo e por defeito, consegue por vezes multiplicá-los. O guarda-redes do Sp. Braga, Tiago Sá, aliviou de forma apertada um remate de Arthur Cabral, avançado da Fiorentina. Ao minuto 49, o árbitro, Benoît Bastien, disse, com auxílio do relógio destinado a esse efeito, que a bola tinha ultrapassado a linha e, por isso, era golo. O Sp. Braga ganhava por 2-1, mas graças à desvantagem de quatro golos que trazia da primeira mão, estava por baixo na eliminatória. Seguiram-se momentos de indecisão em que o juiz francês dialogava com o VAR que se sobrepôs ao olho falcão. A dúvida persistia. O árbitro foi ver as imagens e aos 54 minutos mudou a versão que tinha adotado inicialmente: não era golo da equipa viola, mesmo que as imagens da tecnologia mostrassem… a bola dentro da baliza.

Estava alimentada a ilusão do Sp. Braga. Como se um augado estivesse perto de ser satisfeito com o seu prato de comida favorito e, à beira de o atacar com os talheres, lho retirassem da frente. Era visível a impossibilidade de escalar a montanha, pois, nessa altura da segunda parte, já se notava não existirem cordas de segurança que impedissem a queda da Liga Conferência.

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Se o Sp. Braga tinha expectativas para a competição, perdeu-as rapidamente. No Minho, os guerreiros saíram derrotados no primeiro jogo com a Fiorentina e hipotecaram praticamente qualquer chance de seguirem em frente. Com a necessidade de anularem uma desvantagem de quatro golos, a palavras do treinador do Sp. Braga, Artur Jorge, deixavam antever que os guerreiros poderiam ainda levar algo do encontro. “Temos consciência da dificuldade da tarefa que temos pela frente. Em termos de prioridade iremos procurar ser competitivos para vencer o jogo, essa será a primeira missão”, anteviu o técnico.

Sensivelmente uma hora antes da partida começar, a mensagem transmitida era outra. Em relação ao encontro da primeira mão, Artur Jorge, sobreviveram apenas dois jogadores, sendo eles o central Niakaté e André Horta. Ainda assim, nomes como Pizzi ou Banza começaram de início na tentativa de bater uma Fiorentina com duas caras. “Espero uma Fiorentina que tem demonstrado valor individual e coletivo, ainda que não esteja expresso na sua classificação na Serie A. Vão apostar muito na Liga Conferência”, comentou também Artur Jorge.

Em Braga, o avançado viola, Arthur Cabral, bisou em cerca de dez minutos, o que lhe valeu a titularidade na segunda mão. Apesar de tudo, e por a Liga Conferência ser uma maneira de compensar a desilusão do 14.º lugar na Liga Italiana, a Fiorentina não se colocou à mercê de uma surpresa mesmo que tenha deixado no banco o influente Sofyan Amrabat. “Amanhã é um jogo que terá a sua própria história. Vamos tentar explorar a nossa vantagem. O Sp. Braga vai tentar reabrir a eliminatória e temos de ter a concentração”, dizia o treinador da Fiorentina, Vincenzo Italiano, antes do jogo, ao mesmo tempo que, em relação à vantagem ganha em Portugal, pedia: “não podemos destruir o que construímos”. O técnico explicou também o porquê da equipa ter melhor rendimento na prova europeia. “Aqui somos diferentes do que mostramos no campeonato, onde as equipas estão mais bem preparadas”.

Fiorentina deixou a Pedreira em ruínas e passagem aos oitavos praticamente caiu por terra (a crónica do Sp. Braga-Fiorentina)

Na baliza viola, estreou-se Sirigu. O internacional italiano não teve um início de jogo fácil, pois o Sp. Braga chegou a ameaçar reabrir a eliminatória. Castro (17′), em posição frontal, de fora de área, rematou com a bola no ar e bateu o experiente guarda-redes. No local de onde o médio português chutou para o primeiro golo estava o ‘X’ que normalmente marca o tesouro no mapa. Foi exatamente do mesmo local que Álvaro Djaló (34′) rematou para o segundo.

O Sp. Braga reduzira para dois o número de golos a anular. Só que o Estádio Artemio Franchi regou os guerreiros com água gelada, congelou-lhes o corpo e os jogadores ficaram imóveis a assistir ao momento em que Mandragora (37′) finalizou um cruzamento atrasado que complicava os objetivos dos portugueses.

Os segundos 45 minutos começaram com o lapso entra a tecnologia da linha de golo, o VAR e o árbitro que permitiu manter o Sp. Braga na liderança do marcador, mas não da eliminatória. Até isso foi fugaz. Saponara (58′) empatou e Arthur Cabral (83′) completou a cambalhota e fez o 3-2.

Com um agregado de 7-2, a Fiorentina vai marcar presença no sorteio dos oitavos de final da Liga Conferência que se realiza esta sexta-feira (12h). Como possíveis adversários a equipa viola tem AZ Alkmaar, Djurgården, İstambul Başakşehir, Nice, Sivasspor, Slovan Bratislava, Villarreal e West Ham, todos cabeças de série.