O padre encontrado morto na noite de terça-feira na zona do Gerês tinha sido alvo de uma denúncia por assédio de um adulto vulnerável nas redes sociais, apurou o Observador junto de fonte da arquiodiocese de Évora. Esta foi a primeira queixa formalizada contra este padre junto da Igreja, não havendo registo nos arquivos da diocese ou nos testemunhos feitos à Comissão Independente que estudou os abusos na Igreja nas últimas décadas de qualquer queixa semelhante.

José António Gonçalves, de 57 anos, era pároco de Santiago de Rio de Moinhos (concelho de Borba) e foi encontrado morto em Terras de Bouro ao início da noite de terça-feira. O padre era natural daquela zona e estaria ali a passar uns dias. Ao que o Observador apurou junto de fonte da diocese de Évora, horas antes de a GNR o encontrar, o arcebispo de Évora, D. Francisco Senra Coelho, tinha recebido uma família que denunciara o padre por suspeitas de “assédio digital”, via chat de redes sociais, de um adulto vulnerável. Terá mantido uma “conversa imprópria”.

A mesma fonte explicou também que, nessa tarde, o arcebispo encaminhou o caso para a Comissão Diocesana, que viria a dar seguimento ao processo no dia seguinte. Não chegou sequer a contactar com o padre em questão.

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Horas depois, a diocese era contactada por uma patrulha da GNR de Braga alertada por um carro abandonado em Terras de Bouro e pela consequente descoberta de um homem já sem vida junto a uma barragem. As causas da morte ainda estão a ser investigadas, mas não existe qualquer suspeita de que tenha tido sido provocada por terceiros. No local, sabe o Observador, não foram encontrados quaisquer sinais de utilização de arma de fogo.

O padre José António foi pároco em várias paróquias da arquidiocese, nomeadamente Cano, Santa Vitória do Ameixial, São Bento do Ameixial, Samora Correia, Santo Estêvão, Azervadinha, Rebocho, Biscainho, Branca, Alcácer do Sal, Santa Catarina de Sítimos, Santa Susana, São Cristóvão, Elvas e agora em Santiago de Rio de Moinhos, como deu conta a publicação no Facebook da arquiodiocese. Além de padre, era ainda professor no Instituto Superior de Teologia de Évora.

A GNR de Braga confirmou oficialmente na quarta-feira que encontrou o cadáver por volta das 21h00 na barragem de Vilarinho das Furnas, no Parque Nacional da Peneda-Gerês. Os militares tiveram alguma dificuldade em chegar à morada de residência do padre para informar do que acontecera, porque os documentos do carro não estavam atualizados.

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O Observador apurou também que até esta terça-feira não havia qualquer queixa ou denúncia no arquivo diocesano contra José António Gonçalves. Nem que terá sido apontado pelos mais de 512 testemunhos que chegaram à Comissão Independente que apresentou o relatório final dos abusos na Igreja há cerca de uma semana e meia. O arcebispo também não chegou a contactar o respetivo padre naquele dia, limitando-se a recolher um depoimento escrito por parte da família denunciante, que seria entregue no dia seguinte à  Comissão Arquidiocesana de Proteção e Segurança de Menores e Adultos Vulneráveis.