Não se sabe se Roger Schmidt prefere ler romances, poesia ou thrillers, mas o que o treinador alemão leva de Vizela ficou longe de ser um conto de fadas. “Temos de estar preparados para a história do jogo”, disse antes de viajar para Vizela. Mesmo com as dificuldades sentidas, que já vêm da jornada anterior, o Benfica conseguiu a vitória. No entanto, o epílogo acabou por revelar a expulsão do técnico encarnado que foi atingido com uma garrafa de água na nuca e a devolveu para a bancada. Ao deixar o campo, com as mãos apontadas aos adeptos, mostrou o resultado para a bancada: 2-0.

Como resposta aos problemas do jogo anterior com o Boavista, Roger Schmidt operou várias alterações no onze. O homem do momento na Luz, Chiquinho, sentou-se no banco de suplentes, sendo que Aursnes recuou no terreno para jogar ao lado de Florentino no meio-campo. A troca posicional do norueguês abriu espaço à entrada de Gonçalo Guedes para o corredor esquerdo do ataque. Rafa também deixou de ser fator, passando a posição nas costas do ponta de lança a ser ocupada por David Neres que mudou o jogo contra os axadrezados a favor das águias e foi premiado pelo rendimento. Com naturalidade, Bah, regressado após castigo, tomou o lugar de Gilberto.

O Vizela incluiu os médios Guzzo e Samu no sistema tático da equipa e retirou um defesa-central, Ivanildo Fernandes. Assim, podia-se pensar que os homens de Tulipa abdicaram da linha de cinco defesa, embora o extremo Nuno Moreira oferecesse ajudas bastante profundas ao setor recuado, procurando que as subidas de Grimaldo não provocassem danos à baliza de Buntic e assim a equipa conseguisse prolongar o ciclo em que não tinha perdido nenhum do últimos cinco jogos em casa.

Ficha de jogo

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Vizela-Benfica, 0-2

22.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Futebol Clube de Vizela

Árbitro: Nuno Almeida (AF Algarve)

Vizela: Buntic, Igor Julião, Bruno Wilson, Anderson, Kiki (Matheu Pereira, 77′), Claudemir (Alex Mendez, 69′), Guzzo (Lacava, 60′), Samu, Nuno Moreira (Pedro Ortiz, 60′), Kiko Bondoso e Osmanjic (Zohi, 76′)

Suplentes não utilizados: Luiz Felipe, Invanilson Fernandes, Rashid e Tomás Silva

Treinador: Tulipa

Benfica: Odysseas, Bah, António Silva, Otamendi, Grimaldo, Florentino, Aursnes, David Neres (Rafa, 83′), João Mario, Gonçalo Guedes (Chiquinho, 59′; João Neves, 90′) e Gonçalo Ramos (Musa, 83′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Gilberto, Lucas Veríssimo, Tengstedt e Morato

Treinador: Roger Schmidt

Golos: João Mário (38′ e 90+5′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Guzzo (17′), Otamendi (18′), António Silva (43′), Claudemir (61′), Anderson (70′ e 87′); cartão vermelho a Anderson (87′)

O vizelenses conseguiam sair com perigo para o ataque, mesmo que envolvessem muita gente no processo defensivo. Num lance de contra-golpe promovido pelo extremo que, ao contrário de Nuno Moreira, não baixava tanto no terreno. Só que Kiko foi demasiado Bondoso e perdoou ao rematar contra o guarda-redes do Benfica, Odysseas Vlachodimos.

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Continuava o Vizela a ser mais perigoso. Desta vez, foram os próprios jogadores do Benfica que tentaram escrever poesia e se viram dentro de um drama. António Silva atrasou a bola pelo ar para Odysseas que não se poupou ao esforço de tentar dominar a bola com o peito. Correu mal e a tragédia esteve perto de acontecer. O avançado do Vizela, Osmajic ficou com a bola e, no meio das carambolas, Nuno Moreira atirou por cima quando estava em condições de fazer melhor.

O Benfica entrou na narrativa a meio, mas o início agarrou logo o leitor. Gonçalo Maradona Guedes, fintou um adversário, fintou outro e ainda outro para, já em esforço, largar a bola em David Neres que cruzou atrasado para João Mário (38′) finalizar entre as pernas de um defesa vizelense.

A equipa minhota, empurrada pelos adeptos, manteve a crença em chegar ao golo. Em coro, todo o estádio pediu a expulsão de Otamendi quando o defesa encarnada rasteirou Osmajic quando o montenegrino se dirigia para a baliza. A partir daí, só deu mesmo Vizela e o ponta de lança esteve em especial destaque. Logo no início da segunda parte, o melhor marcador do conjunto de Tulipa voltou a tentar, mas o remate cruzado foi defendido.

Osmajic quis mesmo ser protagonista e quase que arrancou um penálti para o Vizela que podia dar o empate. O árbitro, Nuno Almeida, e o VAR decidiram não marcar, o que deixou o avançado insatisfeito. Assim sendo, foi à procura de mais, mas, desta vez, foi a barra que o impediu de marcar. Na recarga, Kiko Bondoso, acertou no poste. O Vizela teimava em não conseguir o que reivindicava e já merecia.

Com a expulsão do central Anderson por duplo cartão amarelo, o Vizela rendeu-se antes do apito final. Para os vizelenses foi um drama, para o Benfica um plot twist que ainda teve direito a mais um golo de João Mário que chegou ao 14.º golo no campeonato e ultrapassou o colega de equipa Gonçalo Ramos na lista de melhores marcadores. Uma vitória que não fica para a história.