A Bentley está empenhada em tornar-se “o construtor de luxo mais sustentável do mundo” e isso passa (obrigatoriamente) por deixar que a electrificação tome o lugar da combustão, daí que a marca tenha anunciado o fim dos seus motores de 12 cilindros. Será em Abril do próximo ano que a produção do W12 de Crewe vai cessar, altura em que o fabricante britânico espera que toda a sua gama disponibilize já uma motorização híbrida. Até porque, segundo a marca, as versões electrificadas do Bentayga e do Flying Spur têm vindo a superar as melhores expectativas do construtor, com uma procura acima do previsto.
Para honrar a história da mecânica, a despedida far-se-á com o W12 mais potente de sempre. Nada menos que 750 cv de potência às 5.500 rpm e um binário de 1000 Nm de binário, constante entre as 1750 e as 5000 rpm. São números recorde para este motor que se destinam a locomover as 18 unidades que serão produzidas à mão do já esgotado Bentley Batur. Para esta derradeira versão, a equipa de engenharia procedeu a uma série de alterações nos sistemas de admissão, escape e refrigeração. Com turbocompressores de novo desenho e condutas de ar 33% maiores, o mesmo acontecendo com os intercoolers, o W12 passa a admitir mais de uma tonelada de ar por hora (1050 kg) e toda a sua calibração foi revista para optimizar a entrega da potência e torque adicionais.
A evolução nesse sentido tem sido uma constante desde a estreia do W12 de 6,0 litros com dois turbocompressores em 2003. As suas duas décadas de história ficam marcadas por um incremento da potência em 37% acompanhado de um aumento do binário em 54%. Tudo isto enquanto as emissões poluentes caíram 25%. Mas as medidas antipoluição aprovadas por Bruxelas são cada vez mais exigentes e a norma Euro 7 está aí, ao virar da esquina, não se compadecendo dos avultados investimentos que seriam necessários para colocar mecânicas possantes em conformidade com os novos padrões. Convém lembrar, a propósito, que o W12 da Bentley foi completamente redesenhado para o Bentayga, em 2015, integrando tecnologias como a desactivação de cilindros, injecção directa e indirecta e turbocompressores twin-scroll.
Cada motor demora 6,5 horas a ser construído à mão e é depois testado. Este trabalho, nas mãos de 30 artesãos, já tem os dias contados. Mas estes trabalhadores não estão, à partida, em risco, pois a Bentley diz pretender requalificá-los e redistribuí-los. E, no lugar onde se produzem actualmente os W12 – e já terão sido mais de 105 mil unidades, quando este motor completar o seu 20.º aniversário – vão passar a ser fabricadas mecânicas V8 e V6 híbridas plug-in, ampliando a capacidade de produção deste tipo de propulsão.
Luxo a bateria. Bentley dispara para o “Five in Fire”
O construtor britânico do Grupo Volkswagen gizou e está a implementar o plano “Beyond100”, basicamente a sua estratégia para alcançar a meta de se afirmar como o construtor de luxo mais sustentável do mundo. Como aposentar o W12 só não basta, a marca prevê um investimento de 2,5 mil milhões de libras, ao longo de uma década, para dar seguimento ao seu processo de electrificação. Até 2030, a Bentley comprometeu-se a apresentar um modelo puramente a bateria (BEV) todos os anos, o chamado “Five in Fire”, que dará o seu pontapé de saída em 2026, ano em o construtor inglês vai introduzir o seu primeiro veículo eléctrico.
Para preparar o terreno dos próximos anos, literalmente, a marca vai desembolsar 35 milhões de libras para construir “instalações de última geração” na sua sede, em Crewe. O investimento inclui uma mini linha para testar a futura montagem dos BEV, um centro de integração de software, uma oficina de protótipos e ainda equipamentos para testes de metrologia e uma área para o desenvolvimento de novos materiais. A obra deverá ficar concluída até ao final deste ano.