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Foi com um simples desenho que a família Moskalyov se viu no radar das autoridades russas. Quando Maria, de treze anos, pintou durante uma aula desenhos com as frases “Não à guerra” e “Glória à Ucrânia”, a polícia foi chamada à sua escola e deixou ameaças claras à adolescente e ao pai, Alexei.
Os problemas com as autoridades começaram em abril do ano passado, mas não ficaram por aí. No mês seguinte motivaram uma visita de agentes do serviços de informação russo (FSB, antigo KGB) à escola na cidade de Yefremov, na região de Tula. “Durante cerca de três horas e meia disseram-me que estava a criar a a minha filha incorretamente. Disseram que iriam retirá-la do meu cuidado e que me podiam prender“, revelou Alexei numa entrevista recente ao OVD-Info, uma organização não-governamental que monitoriza as violações de direitos humanos na Rússia.
A ameaça só viria a ser cumprida vários meses depois, quando esta quarta-feira as autoridades russas revistaram a casa da família, prenderam Alexei e enviaram a filha temporariamente para um orfanato. A notícia foi avançada pelo OVD-Info, que desde o início da guerra relatou que há 458 suspeitos e condenados em processos criminais anti-guerra.
Estudante russa pode enfrentar dez anos de prisão por publicações no Instagram
Os desenhos que Maria pintou em abril do ano passado — num dos quais era possível ver ucranianos a ser alvo de bombardeamentos — foram apenas o motivo que levou a polícia a investigar o histórico da família. “Achamos que o desenho foi o principal gatilho que chamou a atenção da polícia para o pai. Por causa disso, olharam para as suas redes sociais”, disse a porta-voz do organismo, Maria Kuznetsova, ao jornal The Guardian.
Nas contas de Alexei nas redes sociais VKontakte e Odnoklassniki as autoridades descobriram comentários de apoio à Ucrânia, bem como caricaturas do Presidente russo, Vladimir Putin. Estas manifestações anti-guerra valeram-lhe inicialmente um multa de 32.000 rublos por desacreditar o exército russo.
O caso das autoridades russas contra Alexei não ficou por aí e, com a detenção desta quarta-feira, o homem enfrenta agora uma possível condenação a três anos de prisão por desacreditar as Forças Armadas russas, noticiou o The Guardian, citando o jornal russo Spektr.
Rússia aumenta cerco da repressão e pondera aumentar pena de prisão por desacreditar exército
O caso de Alexei é apenas o mais recente numa série de episódios de repressão do Kremlin para silenciar protestos e punir os que se mostrarem contra a invasão da Ucrânia. “É importante perceber que o caso de Moskalyov é parte de uma terrível tendência mais ampla“, disse ainda Kuznetsova ao jornal britânico.
Desde o início da invasão da Ucrânia, as autoridades russas apertaram o cerco em torno das manifestações públicas contra a guerra e implementaram novas leis para punir os que incumprirem. Desacreditar o exército russo, por exemplo, pode ser punido com a uma pena de até cinco anos de prisão.
A Rússia avança agora para aumentar a repressão e, segundo o presidente do Parlamento russo, vão ser introduzidas emendas para aumentar a pena máxima para esse e outros crimes. “A iniciativa vai proteger todos aqueles que hoje arriscam as vidas para garantir a segurança do nosso país e dos nossos cidadãos”, afirmou Vyacheslav Volodin, um aliado próximo do Presidente russo, citado pela Reuters.
A proposta de Volodin consiste em aplicar multas de até cinco milhões de rublos, trabalho forçado até cinco anos ou uma pena de prisão de até 15 anos. A câmara baixa do parlamento russo vai considerar as iniciativas de Volodin na quinta-feira, com uma votação final marcada para 14 de março.