Os socialistas desvalorizam a contratação, mas a chamada de Luís Paixão Martins pelo partido acontece normalmente quando “a luta aquece”. Desta vez, ao contrário do que é habitual, aparece fora de período eleitoral e o contrato de prestação de serviços que o PS fez agora com o consultor de comunicação, ao que apurou o Observador, está previsto acabar ainda antes das Europeias, a próxima ida a votos a nível nacional no calendário. Mas ao fim do primeiro ano de maioria absoluta, o PS quer ter dados para ajustar a estratégia e escolheu o homem que já aconselhou o Governo a vender a TAP antes de voltar a ir a votos.

Luís Patrão, o secretário nacional do PS para a administração, garante ao Observador que se trata de uma colaboração “regular” e que surge agora para o PS poder “fortalecer a capacidade de análise da situação social de uma maneira mais profissional e até científica”. E, assim, “decidir com uma base mais sólida” sobre o futuro.

António Costa contou com Paixão Martins na última campanha eleitoral, como consultor de comunicação, e agora volta a recorrer a ele “para ajudar a aferir a realidade”, segundo Patrão, num conjunto de temas que ninguém quer divulgar. A notícia foi avançada pela revista Visão que revelava que o consultor  já encomendou uma sondagem política quantitativa e um estudo qualitativo — uma informação confirmada pelo Observador.

O próprio diz de si que é “o menos indicado para aconselhar políticos na política. E na comunicação, embora tenha mais algum conhecimento do que na política, basta ligar a televisão à noite e encontro 200 pessoas que sabem mais de comunicação do que eu. O que acho que introduzo é a matemática, a outra ciência oculta de que ninguém fala”.

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Os dados que se prepara para acrescentar agora ao PS não são apenas quantitativos, o que denota a preocupação do partido não só com quem ainda está ao seu lado, mas também o que esses supostos eleitores pensam sobre o que se tem passado — e não tem sido pouco.

Luís Patrão garante que não vê “nenhuma necessidade especial” do partido neste momento e coloca esta entre as “opções de gestão” normais do PS, recusando adiantar valores ou duração do contrato de prestação de serviços, que é o modelo contratual que vai vincular Paixão Martins ao partido nos próximos tempos. Quanto ao caminho a dar aos dados e posterior análise, o dirigente nacional garante que servirá apenas para “o desenvolvimento da atividade do partido”.

No entanto, o contexto político deste primeiro ano da maioria absoluta foi intenso e acabou mesmo marcado por uma análise crítica do Presidente da República que, em entrevista à RTP na semana passada, a classificou de “requentada” e “cansada” — ainda que tenha reconhecido “vicissitudes”, como a guerra ou a inflação, a complicarem a ação executiva .

Certo é que só nos primeiros nove meses se demitiram ou foram exonerados 13 governantes, entre eles dois ministros — e entre estes o politicamente pesado Pedro Nuno Santos (deixando outro elemento central na governação, o ministro das Finanças, ferido durante este mesmo caminho).

Consultor aconselha Costa a vender TAP antes de qualquer eleição

Essa última baixa no Executivo apareceu, aliás, associada a um tema que Paixão Martins classificou de “ativo tóxico”, quando contou os bastidores da campanha para as legislativas de 2022 (entre outras) no livro “Como perder uma eleição”.

Já no início deste ano, em entrevista ao programa Vichyssoise, na rádio Observador, o especialista repetiu a ideia e disse que esse “ativo tóxico” não se cinge ao período de campanha eleitoral. “Para o dia-a-dia dos políticos e a situação não melhorou“, disse já depois de desmoronado o castelo de cartas com a polémica indemnização paga pela empresa a uma ex-administradora que, mais tarde, foi parar ao Governo (Alexandra Reis).

Luís Paixão Martins: “Se o PS quiser ganhar as próximas eleições tem de resolver este ano a questão da TAP”

O primeiro-ministro e líder do PS já revelou que tem pressa em vender a companhia, afirmando que quer que isso aconteça durante este ano. Mas não se sabe ainda que percentagem o Estado quer alienar e que papel pretende manter no futuro da companhia. Ainda falta saber tudo sobre as linhas com que vai coser-se esta privatização e no interior do PS reconhecem-se os problemas políticos que a companhia traz sempre associados, como escreveu recentemente o Observador.

O homem que vai aconselhar o partido neste fase é o mesmo consultor que, na entrevista já citada, aconselhou os socialistas a venderem a companhia antes de voltarem a ir a votos. “Afastá-la da política. Não é possível continuar a governar o país com a pretensão de vir a ganhar eleições se a TAP continuar a ser o ativo tóxico que é hoje em dia em termos da comunicação do Governo e do PS. E da imagem do primeiro-ministro. Tudo somado”, afirmou então.

TAP, o “ativo tóxico” dos governos que o PS quer sacudir para cima do PSD

Luís Paixão Martins já assessorou outros políticos no passado, nomeadamente José Sócrates, na senda da primeira maioria socialista (2005), e Cavaco Silva, nas presidenciais de 2006, que o antigo primeiro-ministro venceu.

Nesta última consultoria que prestou a Costa, nas legislativas de há um ano, já estava aposentado e fora da empresa que fundou, a LPM Comunicação, que entretanto vendeu ao filho João Paixão. Na semana passada, o Observador noticiou um contrato do Governo com a empresa fundada por Paixão Martins, no valor de 64 mil euros (78,72 mil euros com IVA) para assessoria de comunicação num projeto concreto.

Governo contrata empresa de filho do ‘guru’ da comunicação de Costa na campanha das legislativas