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Mísseis russos a sobrevoar o território ucraniano, alheios aos civis que se atravessam no seu caminho. Uma mulher ucraniana e uma criança observam, sem nada poder fazer, a sua chegada. Foi assim que Maria Moskalyova, de 13 anos, respondeu ao pedido de uma professora para desenhar algo em apoio do exército russo da Ucrânia: um protesto pacífico que levou as autoridades russas a retirá-la do cuidado do pai, Alexei, e a colocá-la num orfanato, onde se encontra há duas semanas.

Tudo começou quando, no dia 1 de março, as forças de segurança russas irromperam pela casa da família Moskalyov, na cidade russa de Efremov (região de Tula), detendo Alexei por suspeitas de “desacreditar o exército”, após terem encontrado publicações nas suas redes sociais contra a guerra na Ucrânia. Enquanto os agentes russos levavam o pai, Maria ficava para trás, sozinha no apartamento, sendo mais tarde levada por uma unidade do departamento de justiça juvenil para um orfanato local.

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O que acontece aos russos que não apoiam a guerra? Homem detido e filha (que fez desenhos contra a invasão) enviada para orfanato

Por esta altura, a família russa já estava no radar das autoridades há cerca de um ano. Era apenas o confronto mais recente desde que, em abril do ano passado, Maria desenhara em protesto contra a guerra na Ucrânia. Já tinham sido ameaçados pelos serviços de informação russos (FSB, antigo KGB), o pai interrogado e multado por desacreditar o exército russo por comentários nas redes sociais em apoio à Ucrânia, levando a família a mudar-se para escapar à repressão, segundo denunciou este mês a organização não-governamental russa OVD-Info.

A mudança de casa, porém, serviu de pouco. Naquela noite, Alexei seria mantido no departamento de investigação, enquanto Maria era obrigada a permanecer no orfanato, sem acesso ao telemóvel ou a internet, sem poder contactar o pai. No dia seguinte, Alexei viria a ser libertado, depois do tribunal decretar que deveria aguardar julgamento em prisão domiciliária, mas a filha não lhe seria devolvida. Passadas quase duas semanas a adolescente continua no orfanato, sem poder contactar ninguém e com as tentativas de ativistas para chegar até ela a serem constantemente bloqueadas. Agora as autoridades prosseguem os esforços para restringir os direitos parentais de Alexei.

Sem contacto com o exterior

“Não conseguimos descobrir nada sobre Maria desde o dia 1 de março. A administração do orfanato e o seu diretor não nos dão informação sobre ela”, denunciou esta semana um grupo de Telegram que apoia o caso de Moskalyov, segundo o jornal independente russo Meduza.

“Ignoram todos os nossos pedidos e dizem-nos que devemos parar de escrever sobre ela. Nunca lhe deram o telemóvel que trouxemos para poder comunicar com o pai”, referem ainda os ativistas, que viram bloqueadas as tentativas para contactar com Maria. Denunciam que a adolescente está a ser mantida no centro “contra a sua vontade” e que a sua permanência não tem por base uma decisão do tribunal”.

A Comissão de Assuntos Juvenis da cidade de Efremov está a avançar com um processo para restringir os direitos parentais de Alexei e da mãe da adolescente. O processo foi iniciado em janeiro, ainda antes da detenção de Alexei, no início deste mês.

A comissão local garante que o caso não está relacionado com a posição anti-guerra do pai, mas que avançou porque foi identificada “uma situação socialmente perigosa”. Segundo Svetlana Davydova, a líder da comissão, o pai deixou de levar a filha à escola depois do incidente do desenho e a mãe da jovem não mostra qualquer interesse pela sua situação.

“Tendo em conta as circunstâncias mencionadas, bem como o facto de ter sido escolhida como medida preventiva a forma de prisão domiciliária contra o pai, a comissão decidiu pela continuação da permanência da criança num centro de reabilitação social sob os cuidados de psicólogos experientes“, afirmou Davydova, citada pelo jornal RBC.

No início do mês, o advogado de Moskalyov disse ao mesmo jornal que ainda não tinha sido notificado do processo contra o cliente. Vladimir Bilienko sublinhou que o tribunal não chegou a decretar uma restrição dos direitos parentais e Alexei não deu o seu consentimento para que a filha permaneça no orfanato.

O futuro da adolescente poderá ser decidido muito em breve. Segundo o jornal Meduza, o tribunal regional de Tula marcou para esta quarta-feira, dia 15 de março, uma audição relacionada com o caso. Em resposta, ativistas de direitos humanos apelaram a todos os que apoiam a família para se mobilizarem e estarem presentes na sessão e a “inundarem” o orfanato com denúncias.