O presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS), António Coelho Lima, reagiu, esta quarta-feira, às declarações do Chefe do Estado-Maior da Armada, Henrique Gouveia e Melo, que considerou que a recusa dos 13 militares em embarcar no navio NRP Mondego, falhando assim a missão de acompanhamento de um navio russo, se tratou apenas de um problema disciplinar. Para Coelho Lima, a “questão não é de disciplina”, mas está sim relacionado com “problema de manutenção”

Em declarações ao Observador, António Coelho Lima elogiou a atuação dos 13 militares que rejeitaram entrar na embarcação. “Tiveram uma postura de coragem, rigor e dignidade — que não é crime”, disse. O responsável lembrou que os nove praças e quatro sargentos “estavam disponíveis para missão”, tendo alertado “os seus comandantes e os seus responsáveis formados no cais em que o navio estava atracado que a embarcação não estava em condições de zarpar por não reunir as condições físicas e materiais para tal”.

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“É uma atitude de grande coragem, portanto não vejo questões disciplinares, mas sim questões de falta de manutenção”, vincou o presidente da Associação Nacional de Sargentos, que fala num cenário em que existe, no seio das Forças Armadas, “escassez de verbas e escassez de meios”, o que leva a que se realizem “missões muito prolongadas sem a necessária manutenção”. “Isso deteriora os equipamentos com um desgaste acelerado do material, para além do fator humano que também acabar por sofrer”, reforçou.

Antes disso, o comandante do NRP Mondego, o primeiro-tenente, Vasco Lopes Pires, garantiu, em declarações à RTP, que o navio tinha condições de segurança para cumprir a missão de acompanhamento de uma embarcação russa. O responsável frisou que um dos motores estava indisponível e que por isso solicitou “o apoio de um rebocador, para poder fazer a manobra com maior segurança”.

“Afirmei perante toda a guarnição que, se em qualquer momento da missão sentisse que algum dos meus militares estaria em perigo, retornaria de imediato para o Funchal e abortaria a missão, se assim fosse necessário. Aliás, tinha essa autorização direta do comandante naval para o fazer, caso fosse necessário”, sublinhou Vasco Lopes Pires.

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Já para Henrique Gouveia e Melo, tal como referido, a recusa dos 13 militares em embarcar tratou-se de um “problema de disciplina” e não teve nada a ver com a falta de manutenção. “A marinha não manda navios para o mar executar missões quando consideramos que esses navios têm algum risco para as guarnições. E isso quem decide é a hierarquia da marinha”, assinalou.

O chefe do Estado-Maior da Marinha reforçou que a hierarquia das Forças Armadas “não pode ser substituída por um grupo da guarnição que começa decidir se faz ou não as missões”. “Se não, caímos no ridículo de um dia temos de fazer uma reunião geral antes de cada missão, de braço no ar votarmos se fazemos ou não a missão”, criticou.

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Questionado sobre a verba de 39 milhões para a manutenção de navios da Armada que foi esta quarta-feira publicada em Diário da República, António Coelho Lima confessou que isso lhe provocou um “sorriso algo amarelo”. O responsável lamentou que este “drama” — resultante de 13 militares terem agido com “grande coragem, lealdade, frontalidade e dignidade” — tenha só agora levado o Governo a agir de forma “muito solícita”, dando “milhões para a manutenção”.

“Faz-nos pensar que alguém a anda a brincar connosco”, atirou António Coelho Lima, salientando, contudo, que o desinvestimento nas Forças Armadas “não é uma tendência somente deste governo”, mas antes de “sucessivos executivos” que permitiram uma “redução de efetivos e investimentos”.

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António Coelho Lima sinalizou também que as más condições do NRP Mondego não são um “problema isolado”, sendo transversal a todos os ramos das Forças Armadas. “Este é um problema muito sério que o nosso país enfrenta há décadas. Infelizmente, é preciso surgirem situações limite com profissionais a terem de tomar posições de grande coragem — que lhes podem sair caras — para que finalmente alguém perceba que algo tem de ser feito.”

Para o futuro, António Coelho Lima espera que a situação se altere e que o Governo canalize mais verbas para as Forças Armadas. Além disso, o presidente da ANS pede que não haja “aproveitamentos político-partidários”, apelando a um “consenso na resolução destes problemas”.

“As questões da Defesa Nacional e das Forças Armadas não podem ser usadas como uma arma de arremesso político-partidário. Todos os partidos na Assembleia da República deviam estar unidos, porque a Defesa Nacional está acima de quaisquer interesses partidários”, rematou António Coelho Lima.