O coordenador do grupo de trabalho para a revisão das aprendizagens essenciais de Matemática esclareceu esta quinta-feira que a Sociedade Portuguesa daquela área foi ouvida durante o processo, admitindo que a unanimidade nem sempre é possível.

Ouvimos muita gente que, obviamente, tem as suas próprias opiniões, mas não há unanimidade em nada”, disse Jaime Carvalho e Silva, depois de o presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) ter lamentado que não tenham sido ouvidos no âmbito da revisão curricular das aprendizagens essenciais da disciplina no ensino secundário.

Em declarações à agência Lusa, na terça-feira, José Carlos Santos insistiu nas críticas aos novos programas, defendendo que as sociedades científicas e as associações dos professores se juntassem e concordassem com um programa básico, o que, segundo o presidente da SPM, não aconteceu, uma vez que a sociedade não tinha sido ouvida.

No entanto, o coordenador do grupo de trabalho responsável esclareceu esta quinta-feira que se reuniu na altura com a SPM, à semelhança de outras sociedades científicas (de Estatística, Física, e de Investigação em Educação Matemática), bem como com associações de professores de Matemática e de Física e Química.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Foi uma discussão intensíssima durante três meses”, sublinhou Jaime Carvalho e Silva, explicando que o grupo de trabalho teve em conta todos os pareces recebidos e avaliou, em função de cada proposta, o que consideravam “adequado, possível e coerente com tudo o resto”.

Ainda assim, o também professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra admitiu que a unanimidade não foi possível e, referindo-se concretamente às críticas da SPM, explicou que as propostas não convenceram o grupo de trabalho.

Aceitamos a opinião da SPM de que o currículo implementado no tempo do ex-ministro Nuno Crato é melhor. Nós não estamos convencidos, não há nenhum país no mundo que aplique um programa semelhante”, afirmou, acrescentando que da parte das associações de professores há também uma rejeição da exequibilidade desses programas.

Por outro lado, em defesa da proposta final homologada no início do ano, Jaime Carvalho e Silva disse que aproveita o melhor daquilo que vigorava em Portugal desde a reforma no mandato do ex-ministro Roberto Carneiro, que introduz aspetos novos e altera “o que não corria tão bem”.

Tudo o que está lá tem fundamentação nalguma coisa. Claro que não somos génios e a nossa proposta é sempre melhorável, por isso é que as discussões públicas são tão importantes. E houve muitas alterações”, referiu.

O coordenador do grupo de trabalho contestou também o alerta do presidente da SPM de que os alunos que escolherem cursos nas áreas ligadas às ciências e engenharias vão chegar mal preparados às universidades devido às mudanças nos currículos do ensino secundário.

De acordo com Jaime Carvalho e Silva, “não é verdade que em Portugal se ensine pouca Matemática” e, apesar de reconhecer dificuldades na transição dos alunos do secundário para o ensino superior — que o professor considera não serem transversais —, defende que “não é fazendo um programa milagroso que se resolvem esses problemas”.

Isso porque, todos os anos, dezenas de milhares de alunos realizam exames nacionais de Matemática, nas várias disciplinas, que servem como provas de ingresso a centenas de cursos. “É uma massa muito diversa e temos que arranjar um programa que seja bom para todos, o ideal não será”, acrescentou.