Associações de defesa do património e do ambiente protestaram contra o abate de árvores que esta segunda-feira começou a ser levado a cabo no contexto das obras do Plano Geral de Drenagem de Lisboa.

Em declarações à Lusa, a partir dos locais onde foram colocadas faixas de protesto, nas zonas de Alfama e Santa Apolónia, a presidente da Associação de Defesa do Património de São Vicente (ADPEV), Catherine Morisseau, adiantou que as 13 associações que assinaram um apelo, divulgado na semana passada, exigindo a suspensão do abate de árvores, no âmbito das obras do Plano Geral de Drenagem de Lisboa (PGDL), vão agora criar uma petição por uma consulta pública sobre o projeto urbanístico para toda a zona.

As árvores que esta segunda-feira começaram a ser abatidas situam-se ao lado do Museu Militar, na Praça de Santa Apolónia, e, segundo a autarquia lisboeta, estão no caminho do túnel de drenagem.

Segundo uma resposta enviada em janeiro pela Direção Municipal do Ambiente, Estrutura Verde, Clima e Energia às associações, 104 árvores serão afetadas pelas obras do Plano Geral de Drenagem, “sendo 68 para abate e 36 para transplante”.

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De acordo com a mesma resposta, a que a Lusa teve acesso, “serão plantadas 140 árvores para compensação” dos abates previstos.

Posteriormente, em 6 de fevereiro, a Câmara Municipal de Lisboa, através de Cristina Rolo, da equipa de apoio ao PGDL, respondeu — em email reencaminhado à Lusa — às questões levantadas pelas associações, explicando que o Plano Geral de Drenagem e a construção dos túneis “tem como objetivo proteger a cidade de fenómenos extremos tendencialmente mais frequentes em consequência das alterações climáticas”.

Catherine Morisseau reage dizendo que a autarquia poderia “desviar ligeiramente o túnel para poupar as árvores” e realça que “uma árvore de grande porte não se compensa, é insubstituível”, lamentando que os autarcas “não tenham noção” disso, levando a cabo uma política que tem abatido, “nos últimos anos, quase todas as árvores de grande porte” da capital.

“Precisamos de árvores de grande porte para fazer drenagem de água. Não nos devemos esquecer que é preciso uma árvore de grande porte para fornecer oxigénio a duas pessoas e, em Lisboa, o número de árvores é insuficiente para o número de habitantes“, salientam as associações no apelo enviado aos autarcas de Lisboa.

As associações signatárias do apelo e do protesto desta segunda-feira — a ADPEV, a Plataforma em Defesa das Árvores, a APPA – Associação do Património e População de Alfama, o Fórum Cidadania Lx, o Movimento Salvar Jardim da Parada, os Amigos da Tapada das Necessidades, a Associação SOS Quinta dos Ingleses – Grupo, a Alvorada Da Floresta, o SOS Costa da Guia, o SOS Parque Natural Sintra-Cascais, o Grupo Ecológico de Cascais, a Climáximo e a Gaia — reivindicam “um estudo urbanístico sério para que se evitem abates indevidos”.

A zona de Alfama não foi afetada pelas grandes inundações de dezembro em Lisboa “graças às árvores de grande porte”, recorda Catherine Morisseau.

Acresce que Santa Apolónia é a zona “mais poluída de Lisboa, por causa dos cruzeiros” e, por isso, precisa de “cuidado especial”, sustenta.

Segundo dados fornecidos pela Direção Municipal do Ambiente, Estrutura Verde, Clima e Energia, em resposta às associações, “o número estimado de árvores em Lisboa é de cerca de 424.000”, o que daria “cerca de 0,78 árvores por residente, bastante superior ao valor considerado como mínimo nas reclamações (0,25 árvores por habitante)”.

Mesmo que se considere também a população pendular, o rácio seria de “0,46 árvores por habitante”, acrescenta.

Face ao início, esta segunda-feira, da retirada das árvores, as associações decidiram avançar com a petição pública “Salvar Santa Apolónia”, que pretende chamar a atenção para todo o projeto — “sem consultar as pessoas” — de requalificação da zona.

“O projeto não está alinhado com o que as pessoas desejam”, frisa Catherine Morisseau, referindo-se ao Conselho de Cidadãos de Lisboa, que reivindicou mais espaços verdes para a zona.

Para a ativista, o “problema de falta de consciência ambiental” é geral, não se verifica apenas em Lisboa.

“Os autarcas acham que as árvores não contam para nada e fazem projetos sem nunca contemplarem as árvores”, denuncia.