As Nações Unidas (ONU) acreditam que a morte de Mahsa Amini foi resultado de violência policial e não, como dizem as autoridades iranianas, por “causas naturais”. São as conclusões de um relatório, apresentado esta segunda-feira em Genebra ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU, que diz mesmo que a violenta repressão dos protestos pela morte da jovem constitui “crimes contra a humanidade”.

O Relator Especial da ONU para a situação dos direitos humanos no Irão afirmou ter provas de que Mahsa Amini foi morta pelas forças de segurança e criticou a postura do regime iraniano, cujas “supostas investigações não foram nem credíveis nem transparentes”.

Javaid Rehman classificou como “brutal” a resposta aos protestos, sublinhando que a violência policial tem sido indiscriminada e até tem incidido sobre crianças. “As forças de segurança têm respondido com munições, balas e projeteis metálicos diretamente contra protestantes desarmados e pacíficos, entre os quais muitas crianças e jovens que não representavam qualquer ameaça direta de vida ou de ferimentos, bem como contra transeuntes e pessoas que estavam a fugir”, referiu.

A gravidade e escala da repressão, defendeu Rehman, “aponta para a prática de crimes internacionais, nomeadamente crimes contra a humanidade”. Entre os crimes descobertos pela ONU, contam-se casos de homicídio, prisão indevida, desaparecimentos forçados, tortura, violação e violência sexual e perseguições.

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O embaixador iraniano Ali Bahreini já veio refutar o relatório das Nações Unidas. O diplomata disse que o relatório se assemelhava “a um romance trágico” sem qualquer base na realidade, e acusou o relator da ONU de se basear em versões dos governos ocidentais, dos media e de “grupos terroristas” que “fingem que a sua imaginação é a realidade da situação dos direitos humanos no Irão”.

A posição oficial do Irão, recorde-se, é a de que Mahsa Amini morreu de causa naturais — versão contradita por várias testemunhas que garantem que a jovem foi brutalmente agredida pela “polícia da moralidade” iraniana por, alegadamente, usar o hijab (véu islâmico) de forma incorreta.

Vários grupos ativistas e de direitos humanos têm vindo a denunciar a repressão das autoridades policiais durante as manifestações pela morte de Amini, que duram há vários meses. Relatos independentes apontam para pelo menos 530 manifestantes mortos e dezenas de milhares de detenções. Mais de 100 foram condenados à morte pelo seu papel nas manifestações, e várias das penas capitais foram já levadas a cabo. Recentemente, as autoridades iranianas anunciaram a libertação de 22 mil dos manifestantes presos ao longo dos últimos meses.

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