O PS estava contido na resposta ao Presidente da República que já na entrevista à RTP tinha atirado fortes críticas à maioria socialista, mas desta vez avançou com o presidente Carlos César para responder à dureza com que Marcelo atacou o pacote da habitação do Governo. César considera que Marcelo “tem prestado menos cuidado a algo que sempre acautelou nestes anos: o equilíbrio que o Presidente da República deve cultivar do sentido crítico com a cumplicidade institucional”.

O aviso fica feito, em declarações à Rádio Renascença, com o presidente dos socialistas a aconselhar também o Governo a não entrar em confronto com o Presidente da República. Carlos César aconselhou o Governo do PS a “continuar a trabalhar, e a fazê-lo de melhor forma, e não se envolver em atos ou considerações que afetem esse valor que tanto contribui para a estabilidade da nossa democracia”. Uma referência à relação institucional entre Belém e São Bento.

De “lei cartaz” a “inoperacional”: Marcelo critica pacote do Governo para a Habitação

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Este circuito já conheceu melhores dias, com o tom entre as partes a endurecer esta terça-feira, depois das críticas que Marcelo Rebelo de Sousa fez, classificando de “inoperacional” o pacote de medidas apresentado pelo Governo há um mês. Mas já vinha azedado da semana passada, altura em que Marcelo chamou de “requentada” e “cansada” a maioria socialista.

O PS continua a resistir a entrar em confronto direto, como o Observador já tinha escrito na altura da entrevista do Presidente à RTP, com Marcelo, mas com um recado medido enviado pelo presidente do partido para Belém. Se por um lado, César aponta a Marcelo a alguma falta de cuidado com o equilíbrio de poderes, por outro lembra o Presidente das vantagens que a boa cooperação institucional — ou “cumplicidade institucional” — tem trazido, nomeadamente ao nível da estabilidade política.

PS vê copo meio cheio nas críticas de Marcelo e não entra em confronto

Os socialistas têm estado atentos às investidas presidenciais, embora considerem que o Presidente não tem intenção de vir a dissolver a Assembleia da República. Em entrevista à Lusa, no início deste ano, o mesmo Carlos César já tinha vindo responder ao Presidente da República — e ao aviso para “um ano decisivo”, na mensagem de Ano Novo –, recordando que “o PS obteve uma votação”, em janeiro de 2022, “aliás, sensivelmente idêntica à da reeleição do senhor Presidente da República” um ano antes, nas Presidenciais de janeiro de 2021. Nessa altura também destacou o “apego à estabilidade” que Marcelo Rebelo de Sousa tem revelado.

Não é, por isso, nem a primeira nem a segunda vez que Carlos César vem responder a Marcelo deixando o Governo afastado desse confronto. Já quando, na tomada de posse do Executivo, o Presidente da República advertiu António Costa para a necessidade de levar o mandato até ao fim, sob pena de ter de convocar eleições antecipadas, César veio dizer que Costa só estava “refém do povo que o elegeu”. E nessa altura, Marcelo veio ripostar: “O primeiro-ministro, como em qualquer democracia e na sequência da renovação expressiva da legitimidade eleitoral do PS, é refém do povo que o elegeu e dos compromissos que assumiu”. Para reafirmar a sua tese.