Conta como um “jogo”. Porque havia bilhetes para o jogo, havia uma ficha de jogo, havia árbitros a entrar com as equipas para o jogo. No entanto, entre o mérito de Portugal durante alguns períodos e a incapacidade do Liechtenstein em qualquer coisa que envolvesse passar do meio-campo com bola controlada, o “jogo” foi sobretudo um treino nacional em ataque organizado contra blocos ainda mais baixos do que os blocos baixos que tantas vezes se encontram e uma oportunidade para Roberto Martínez começar a ver em ação alguns dos pontos que foi tentando trabalhar nos primeiros dias de trabalho. No final, valeu uma goleada a pecar por escassa (4-0) com bis de Ronaldo no dia em que se tornou o jogador com mais internacionalizações.

Um amor à primeira vista que meteu Martínez e Ronaldo a falarem a mesma língua (a crónica do Portugal-Liechtenstein)

O adversário não era propriamente o mais complicado, a teoria acabou por confirmar-se na prática. Por um lado, Portugal conseguiu quebrar uma série de quatro arranques de qualificações para o Campeonato da Europa consecutivas sem conseguir a vitória no primeiro encontro: a seguir ao 3-1 à Hungria em 2000, seguiram-se o empate a um com a Finlândia em 2008, o empate a quatro com o Chipre em 2012, a derrota com a Albânia em 2016 e o empate sem golos com a Ucrânia em 2020. Por outro, Roberto Martínez tornou-se o 13.º selecionador nacional a começar com um triunfo, sendo que o último tinha sido Paulo Bento.

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Há ainda um dado curioso em relação ao treinador espanhol: juntando as partidas feitas pela Bélgica e agora por Portugal, Martínez mantém o registo só com vitórias em fases de apuramento para o Campeonato da Europa, com 11 triunfos noutros tantos jogos sempre por pelo menos dois golos de diferença e levando nesta fase uma média de quatro golos por partida (44) com três consentidos, sendo que esta noite contou com um bis de Ronaldo e um golo, uma assistência e um penálti sofrido por João Cancelo.

“O resultado é muito importante. Foi uma oportunidade para conhecer os jogadores e perceber como podemos extrair da melhor forma possível as qualidades dos jogadores. Estou muito orgulhoso dos meus jogadores. A atitude demonstrada foi uma continuação [dos treinos]. Temos de desfrutar de momentos assim. O público esteve fantástico. Nota-se que é muito especial quando se joga pela Seleção de Portugal e os jogadores seguiram esta linha. Foi mais um passo em frente para nos prepararmos para o próximo jogo. Ficámos um pouco frustrados na primeira parte, mas não houve nenhuma situação de perigo do adversário. Quando há jogos assim, temos de ajustar. A forma como começámos a primeira e a segunda parte deu-nos vantagem. Luxemburgo? Cada adversário é distinto. Jogar fora de casa é sempre difícil. Temos de recuperar bem para termos energia para o próximo jogo”, comentou Roberto Martínez na flash interview da RTP3.

“O balanço é muito, muito positivo. Seguimos a mesma atitude e trabalho desempenhado nos treinos. É sempre muito difícil de jogar estes jogos, são complicados. A forma como pudemos jogar com bola e sufocar o Liechtenstein foi importante para nós. Creio que começámos muito bem e depois ficamos frustrados, procurámos ações mais individualizadas nos últimos 25 minutos da primeira parte. A segunda parte foi muito melhor. Foi uma oportunidade para ganharmos três pontos e de conhecer os jogadores e eles a mim. Foi um início muito importante. Não podemos ser individualistas nestes jogos em que se tem tantos jogadores à frente da baliza. O mais importante foi o que fizemos sem bola e estivemos muito bem nesse aspeto. Ronaldo? Para estar na Seleção tem de estar comprometido. É um novo ciclo. É muito importante que mostre compromisso para que possamos usar a sua experiência e ele mostra”, disse à SportTV.

Por fim, e ainda à SportTV, Martínez confidenciou que espera encontrar-se com Fernando Santos em maio, altura em que será organizado um encontro entre todos os técnicos que estiveram no último Campeonato do Mundo. “Ainda não falei com ele mas é algo que quero fazer quando estivermos juntos em maio, para saber mais informações sobre o grande trabalho que fez”, disse. Curiosamente, João Cancelo, no final do jogo, fez questão de falar também do antigo selecionador. “Este novo treinador gosta de muita intensidade no seu jogo mas não devemos desvalorizar o que fez Fernando Santos”, referiu na zona de entrevistas rápidas. “É um homem com coração de ouro, deu muito a este grupo, deu muito a estes jogadores que estão aqui e não devemos ser ingratos, nem a equipa nem os portugueses. Deu-nos um Euro, deu-nos uma Liga das Nações e é um dos melhores treinadores que passou por cá”, acrescentou na zona mista, naquilo que foi entendido como um “reparo” a Ronaldo que passara ao lado do técnico na véspera.

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