É mais um dia de greve e protestos em França. Trabalhadores com sinalizadores acesos invadiram e bloquearam uma das principais estações ferroviárias de Paris, enquanto outras manifestações decorriam em várias cidades francesas.

Foi convocada uma nova mobilização para o dia 6 de abril, de acordo com o Le Parisien. A primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, convocou as organizações sindicais para negociações, que se deverão realizar na próxima segunda-feira ou terça-feira (dias 3 e 4 de abril). A greve dos trabalhadores da recolha do lixo vai terminar esta quarta-feira. 

De acordo com as informações avançadas pelo Ministério do Interior francês, citado pelo Le Monde, são cerca de 740 mil as pessoas que manifestam um pouco por todo o país contra decisão de Macron de aumentar a idade legal de reforma de 62 para 64 anos. A polícia refere que, só em Paris, encontram-se cerca de 93 mil manifestantes. Os números divulgados pelo governo francês e pelas autoridades divergem daqueles que foram avançados pelos sindicatos: a Confederação Geral do Trabalho (CGT) contabiliza dois milhões de manifestantes em todo o país, cerca de 450 mil só em Paris — onde 55 pessoas foram detidas esta terça-feira.

Se, inicialmente, as manifestações foram pacíficas, ao final da tarde desta terça-feira os confrontos entre polícia e protestantes voltaram a subir de tom. A imprensa francesa explica que a tensão se acumulou na Place de la Nation, uma praça de Paris, com as autoridades a recorrerem a gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes, que pegaram fogo a caixotes do luxo e atiraram projéteis em direção aos agentes.

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Para além da capital francesa, também em Nantes se registaram confrontos. O Le Monde dá conta de que uma agência bancária foi incendiada e o tribunal administrativo “visado” pelos manifestantes. Também na região de Ardenas foi denunciada a “violência grave” num protesto com mais de 4 mil pessoas: “garrafas de ácido” e “projéteis” terão sido lançados contra a polícia, que deteve 18 pessoas.

A “greve nacional” levou ao encerramento do Palácio de Versalhes, do Arco do Triunfo, do Louvre e da Torre Eiffel, que no seu site oficial pedia “desculpa pela inconveniência” e explicava que aqueles que tinham bilhetes online para visitar o monumento deveriam “verificar os seus emails”.

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A mobilização desta terça-feira é a décima onda de greves e protestos, desde janeiro, convocada pelos sindicatos, que pediram aos trabalhadores e manifestantes que saíssem às ruas contra o decreto de Macron. O governo francês intensificou as medidas de segurança para travar violência, enquanto os sindicatos lançaram uma nova onda de protestos e greves nesta terça-feira contra o aumento da idade da reforma no país. Nas escolas, a greve continua: segundo o Ministério da Educação 87,3% dos professores não deu aulas esta terça-feira — sendo que foram registados 53 incidentes em frente a escolas, número que inclui 14 bloqueios.

O ministro do Interior, Gérald Darmanin, anunciou uma mobilização sem precedentes de 13.000 polícias, quase metade deles concentrados na capital francesa, devido ao temor de novos atos de violência que poderiam prejudicar as manifestações pacíficas. Darmanin disse que mais de 1.000 “manifestantes radicais”, alguns do estrangeiro, poderiam aderir às marchas pacíficas planeadas para Paris e outras cidades.

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“Vêm para destruir, ferir e matar polícias e “gendarmes”. Os seus objetivos não têm nada a ver com a reforma da segurança social. Os seus objetivos são desestabilizar as nossas instituições republicanas e trazer sangue e fogo para a França“, declarou o ministro na segunda-feira, ao detalhar as medidas de policiamento.

Líderes sindicais e opositores políticos de Macron culpam o seu Governo pela violência nos protestos que explodiram nas últimas semanas, dizendo que as suas reformas na segurança social estão a provocá-la.

Os críticos também alegam que os polícias estão a usar força excessiva contra os manifestantes. Um órgão de supervisão da polícia está a investigar várias alegações de irregularidades cometidas pelos agentes.

Incapaz de obter a maioria na Câmara Baixa da Assembleia da República para estas reformas impopulares, Macron usou um poder constitucional especial para as aprovar, inflamando ainda mais a revolta dos manifestantes.