A legislação portuguesa é omissa quanto aos produtos que podem ser vendidos a granel, alerta a associação Zero Waste Lab, que pede um “trabalho grande de legislação” nessa área.
Em declarações à Agência Lusa, Sara Morais Pinto, co-fundadora da associação, disse também que gostava de ver a Assembleia da República reativar o grupo de trabalho sobre a venda a granel.
Sara Morais Pinto falava a propósito do Dia Internacional Lixo Zero, que se assinala na quinta-feira pela primeira vez, depois de ter sido proclamado pela Assembleia Geral da ONU em 14 de dezembro do ano passado.
A propósito da efeméride, a Zero Waste Lab, criada há cinco anos e desde novembro passado reconhecida como organização não-governamental para o desenvolvimento (ONGD), promoveu o mês de março como “Março, mês do granel”, com quase uma centena de eventos em todo o país.
Sara Morais Pinto explicou que a promoção de um mês dedicado aos produtos a granel, uma forma de evitar o desperdício e os resíduos, e promover o produto local e sazonal, envolveu lojas de bairro que vendem produtos a granel e a Liga-Ação, uma plataforma digital promovida nomeadamente pela ONGD.
“Houve colaboração entre as lojas e também se juntaram à campanha jornalistas, atores ou músicos, além de associações e os consumidores. São as lojas de bairro que dão a informação exata sobre os produtos que vendem, sobre as suas origens”, disse a responsável.
São essas lojas, acrescentou, que promovem uma venda mais justa, com respeito pela origem e pelo produto, e foram elas que dinamizaram ações, além de cooperação, como palestras, visitas a hortas, demonstrações e atividade com crianças.
A iniciativa teve o apoio institucional da Comissão Europeia e das associações portuguesas Zero (ambiente) e Deco (consumidor).
“O granel é um alicerce importante na ação climática e no evitar do lixo”, salientou a responsável da Zero Waste Lab, entidade que encerra na quinta-feira o mês do granel e promove um debate sobre o dia internacional e o papel do granel na ação climática, e ainda lança uma petição para a revisão da flexibilização da regulação do granel.
Questionada sobre se é possível chegar-se ao “lixo zero”, que diz ser na verdade “um processo e uma atitude”, Sara Morais Pinto prefere salientar a “incoerência que ainda hoje existe” entre o que as pessoas dizem e o que fazem, e congratular-se com o facto de as questões ambientais fazerem hoje parte dos discursos políticos e coletivos.
“Há desperdício na extração, na produção, na logística e transporte dos produtos, no negócio da venda”, é preciso promover e enaltecer a profissão, facilitar o acesso à reparação de equipamentos, cortar no “usa e deita fora”, diz Sara Morais Pinto.
O Dia Internacional Lixo Zero (ou do Resíduo Zero) destina-se a promover padrões de consumo e produção sustentáveis e aumentar a consciencialização sobre como as iniciativas de resíduo zero contribuem para o avanço da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, diz a ONU.
A organização cita estimativas segundo as quais são coletadas a cada ano 11,2 biliões de toneladas de resíduos sólidos, e diz que o setor de resíduos contribui significativamente para a emissão de gases de efeito estufa em ambientes urbanos e para a perda da biodiversidade.
Cerca de 931 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas a cada ano, e está estimado que até 37 milhões de toneladas de resíduos plásticos entrem anualmente no oceano até 2040.
O presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas convocará uma reunião de alto nível de um dia sobre Resíduo Zero, na quinta-feira, para troca de experiências e histórias de sucesso dos países no desenvolvimento e implementação de soluções e tecnologias de gerenciamento de resíduos sólidos.