O presidente da comunidade afegã revelou, esta quarta-feira, que o alegado autor do ataque ao Centro Ismali estava a ser ameaçado por talibãs com o objetivo de o fazer regressar ao Afeganistão. Em declarações à CNN, Omed Taheri disse ainda que os portugueses estão a olhar para a comunidade afegã com mais estigma, situação que tem sido denunciada “desde o primeiro dia.” E acrescenta: “Os donos de restaurantes estão a olhar para os funcionários afegãos de lado, a pensar que ‘este será o próximo’.”
Filhos do atacante vão continuar na instituição de acolhimento para onde foram levados
Segundo Omed Taheri, o atacante estava a ser ameaçado pelos talibãs para regressar ao seu país de origem, uma situação que acontece com vários refugiados em vários países. “Ele recebia chamadas do Afeganistão em que os talibãs ameaçavam os pais dele e lhe diziam para voltar para lá”, contou. Segundo o presidente da comunidade afegã em Portugal, esta chantagem tem acontecido com mais frequência desde que os extremistas chegaram a Cabul e derrubaram o governo. “Muita gente está a tentar fugir do Afeganistão, por causa do [novo] regime.”
Como em apenas três meses os talibãs conseguiram entrar em Cabul e derrubar o governo afegão
Omed Taheri explicou ainda que não conhecia o autor do ataque e que a informação sobre Abdul Bashir chega através de quem o conhecia. “Recebemos chamadas sobre ele, a indicar as preocupações dele, que está sozinho, sem a esposa, que tem os três filhos e que não se sabe como lidar com esta situação. Porque, se ele procurar um trabalho, vai ter de deixar os filhos com alguém que não conhece. Se não procurar trabalho, como é que vai por comida na mesa?”
“Posso garantir que este foi o primeiro e último caso”, continuou, “porque estamos a seguir este assunto muito seriamente e a contactar todos os afegãos que estão em Portugal para isto não voltar a acontecer. Não podemos justificar esta situação com qualquer tipo de desculpa. Não existe desculpa para matar duas pessoas inocentes.”
O líder da comunidade dá conta de mil pessoas afegãs a viver atualmente em Portugal, de norte a sul do país. E reforça a importância de se conhecerem os motivos do ataque para a inclusão do povo afegão.“Enquanto não forem conhecidos os verdadeiros motivos deste ataque, toda a gente vai olhar para as pessoas do Afeganistão de lado.”
Neste momento, a comunidade está a partilhar informações com o Alto Comissariado para as Migrações e com o secretário de Estado. “Estamos a tentar falar com Marcelo Rebelo de Sousa”, acrescenta, explicando que já foram feitas tentativas para comunicar com o presidente da República, até agora sem concretização. “A comunidade afegã está disposta a qualquer tipo de colaboração com o Estado.”
Para já, a comunidade também não está a colaborar com as autoridades, porque estas “não os contactaram”. “Voluntariámo-nos várias vezes. Estamos disponíveis para colaborar em tudo o que for necessário. Se precisarem de tradutores, temos vários tradutores que falam português e as línguas maternas [do Afeganistão].”
“A nossa associação é construída para todos os afegãos que chegam a Portugal, sejam sunitas xiitas ou ismaelitas (…) Não diferenciamos. Entre nós não há esse problema”, conclui.