Há mais de 1,6 milhões de cidadãos que estão registados no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e que não têm médico de família atribuído – é o número mais elevado dos últimos oito anos e só em Lisboa e Vale do Tejo, zona sob maior pressão, são 1,1 milhões de pessoas que estão nesta situação.
Segundo dados do Portal da Transparência do SNS, destacados esta quarta-feira pelo jornal Público, a percentagem de pessoas sem médico de família atingia 28% dos inscritos em Lisboa e Vale do Tejo em março (1.093.468 pessoas), 21% no Algarve e 15,7% no Alentejo. Na região Centro, que tradicionalmente sofre menos com este problema, também tem vindo a perder terreno – o número de inscritos sem médico subiu em março para 11,6%. No norte, apenas 2,7% das pessoas estão nesta situação (embora também aqui a percentagem esteja a subir).
[Os números do Portal da Transparência do SNS foram tema de debate no programa “E o vencedor é…”, na Rádio Observador, na última segunda-feira]
A cobertura de cidadãos com médico de família está a ser dificultada pela saída de médicos do SNS, alguns que se aposentam, outros que vão para o privado ou para o estrangeiro. Depois, há dois concursos de recrutamento de jovens especialistas por ano. Do lado da procura, também há novos utentes a inscreverem-se nos centros de saúde.
“Não há medidas estruturais nem um plano para atacar o problema”, afirma ao Público João Rodrigues, que coordenou um grupo de trabalho nomeado em 2021 para apresentar propostas para a reforma dos cuidados de saúde primários. As propostas que saíram desse grupo de trabalho ainda não foram colocadas em prática: “Ou se aposta em medidas estruturais para a década ou a situação vai piorando”, avisa, pedindo que “haja capacidade para atrair [os médicos] e reter no SNS”.
“Já temos médicos de família em número suficiente — formamos cerca de 500 por ano. O problema é que, em média e nos últimos anos, ficam no SNS apenas 65% e, ao fim de um ano, ainda saem mais 15%”, acrescente João Rodrigues.