Um juiz do estado norte-americano do Texas decidiu esta sexta-feira suspender a venda do medicamento mifepristone — um dos medicamentos mais utilizados no país para provocar uma interrupção de gravidez —, que tinha sido liberalizada com o governo de Joe Biden.
Matthew Kacsmaryk deu razão aos grupos anti-aborto que apresentaram argumentos ao tribunal para suspender a venda da pílula abortiva, cuja venda em farmácia passou a ser permitida pela Food and Drug Administration (FDA) desde janeiro, mediante receita médica.
Regulador americano autoriza venda de pílula abortiva nas farmácias
A mifepristone é geralmente utilizada em conjunto com um segundo medicamento para interromper uma gravidez — e, segundo o Washington Post, mais de metade dos abortos realizados nos Estados Unidos são feitos com recurso a medicação. Na argumentação, o juiz Kacsmaryk — que foi nomeado pelo ex-Presidente Donald Trump — usou argumentos e linguagem frequentemente utilizados pelos grupos anti-aborto no país, como a afirmação de que este medicamento está a ser usado para “matar um humano ainda não nascido”.
A decisão, contudo, não entrará imediatamente em vigor, já que a administração Biden apresentou imediatamente recurso. Para além disso, precisamente no mesmo dia, o juiz Thomas O. Rice (nomeado pelo ex-Presidente Barack Obama) tomou uma decisão em sentido diametralmente oposto no círculo de Washington D.C. Isso significa que o tema deverá por isso acabar por ser resolvido pelo Supremo Tribunal, o mesmo que reverteu a lei que despenalizava o aborto no país, a Roe v. Wade.
Em reação à decisão, o Presidente Joe Biden acusou o tribunal do juiz Kacsmaryk de estar a tentar sobrepor-se “à avaliação da FDA, a agência especialista em medicamentos” e afirmou que, se a decisão for validada, “nenhuma medicação aprovada pela FDA fica a salvo deste tipo de ataque”.
Today, a federal district judge in Texas ruled that a prescription medication available for over 22 years, approved by the FDA, and used safely by millions of women should no longer be approved in the U.S.
Here's why this matters. And how my Administration is going to fight it.
— President Biden (@POTUS) April 8, 2023
Vários membros destacados do Partido Democrata também reagiram de forma intempestiva à decisão. “Se outro grupo radical apresentar outro processo, o que pode vir a seguir? Medicamentos contra o cancro? Insulina? Tratamento para doenças mentais?”, questionou Chuck Schumer, líder do partido no Senado.
Alguns, como o senador Ron Wyden, foram ainda mais longe e apelaram a Biden para que pura e simplesmente ignore a decisão judicial: “Acredito que a FDA tem autoridade para ignorar esta decisão e é por isso que peço ao Presidente Biden e à FDA que façam isso mesmo”.
O governo norte-americano, porém, não está a equacionar para já essa estratégia, confirmou ao Politico um dos conselheiros legais da Casa Branca que classificou essa estratégia como “prematura” e “bastante arriscada”, já que poderia por em causa o recurso judicial que está a decorrer.
Do lado do Partido Republicano, a decisão foi celebrada por algumas figuras, como Mike Pence. “Hoje, a vida voltou a vencer”, disse o antigo vice-presidente de Donald Trump. Muitos, porém, mantiveram-se em silêncio, incluindo o próprio ex-Presidente e agora novamente candidato à Casa Branca.