A fábrica de Cacia, que hoje produz caixas de velocidades e equipamentos menos complexos como bombas de água e afins, não figura entre as linhas de produção com mais futuro da Renault. A marca francesa está decididamente virada para os veículos eléctricos, pelo que dividiu as suas instalações entre as associadas aos veículos de combustão, por isso denominadas Horse, e as outras que visam os veículos eléctricos, apelidadas Amperes. Tudo o que é Horse (ou Power) mantém a Renault como accionista, mas o resto foi adquirido pelos chineses da Geely e os sauditas da Aramco.

Preparando-se para o futuro, necessariamente complicado, como tudo o que é relacionado com a indústria automóvel, o Grupo Renault tentou encontrar uma solução para a continuação da sua fábrica de Cacia, que sempre produziu caixas de velocidades e acessórios para veículos equipados com motores de combustão, como bombas de água. Daí que a fábrica francesa nos arredores de Aveiro continuasse a evoluir em matéria de complexidade, ao passar a ser responsável pela fabricação das novas caixas de velocidade que servem os modelos híbridos e híbridos plug-in (PHEV), a Intelligent Multimode Gearbox, a caixa mais sofisticada do mercado, desenvolvida em colaboração com os engenheiros da F1 da Renault e que concilia mudanças mecânicas com mudanças eléctricas, de forma a assegurar um total de 15 velocidades.

Mas Cacia não pode confiar o seu futuro a mecânicas híbridas e híbridas plug-in, que têm os dias contados a partir do momento em que a Renault já anunciou que, para o mercado europeu, não haverá modelos com motor a combustão – seja ele como motor único ou principal, como acontece nos híbridos ou PHEV – a partir de 2030. Daí que seja necessário alguma criatividade para que os trabalhadores e a própria fábrica garantam que têm hipóteses de continuar a trabalhar.

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A solução encontrada pelos responsáveis do grupo francês para garantir que Cacia se mantém a funcionar passa pela criação da Testbed the smart lab, fruto do consórcio formado pela Renault, Brisa e Via Verde, que visa dar corpo a uma plataforma de desenvolvimento de negócios em soluções inovadoras da Indústria 4.0. O objectivo é aproveitar todo o potencial das instalações de Cacia em termos de espaço, fundição de alumínio e maquinação de todo o tipo de peças de metal, para acolher empresas inovadoras e startups em áreas tão distintas quanto inteligência artificial, ciência de dados, robótica colaborativa inteligente, manufactura aditiva, sistemas ciberfísicos, blockchain, mobilidade ou conectividade. A Testbed “the smart lab” enquadra-se no plano PRR, foi apresentada na Universidade de Aveiro pelo Presidente da República e do primeiro-ministro e conta já com 30 projectos-piloto e projecta acolher 59 projectos no próximos três anos.

Uma vez integrada na divisão Horse do Grupo Renault, a fábrica de Cacia tem como accionistas paritários o grupo francês, o grupo chinês Geely e a Aramco. Tanto quanto o Observador pode apurar, representantes dos sócios chineses já visitaram as instalações e deram-se como satisfeitos e potencialmente surpreendidos pelo desempenho das instalações, que hoje produzem peças para a Renault, Dacia e Nissan.

O futuro de Cacia estaria facilitado caso conseguisse convencer os novos donos do seu potencial para a indústria automóvel, relacionado com veículos eléctricos. E a fábrica próxima de Aveiro não é alheia aos motores eléctricos, uma vez que além das complexas caixas de velocidade Intelligent Multimode Gearbox, Cacia vai igualmente produzir os motores eléctricos para os veículos híbridos e PHEV.