Mais denúncias e mais provas. Diana Carvalho Pereira, a médica interna que denunciou casos de negligência no Hospital de Faro, continua a reunir informação. Segundo avançou a própria nesta quarta-feira, num direto no Instagram, desde que chamou a atenção para as alegadas más práticas em Faro — e entregou uma queixa na Polícia Judiciária — tem ouvido muitas histórias dos seus colegas, inclusive de serviços diferentes do seu. Ao mesmo tempo, no Facebook, uma anestesista do hospital, com mais de 30 anos de profissão, considera que os relatos de Diana só pecam “por defeito”.

“Fui contactada por diversos profissionais do hospital. Alguns relatam situações horríveis até noutros serviços”, diz a médica de 27 anos. “Não é uma situação em particular desta equipa, é do serviço e quiçá do hospital”, acrescenta Diana Carvalho Pereira, que tinha começado o internato três meses antes de fazer as denúncias.

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Assim, além dos 11 alegados casos de negligência e erro médico que já apresentou à PJ, a médica promete, em breve, entregar mais, assim que tiver reunida a documentação necessária. A Ordem dos Médicos também será avisada dos alertas que lhe têm chegado.

A médica esclarece ainda que não foi afastada do serviço, como chegou a ser noticiado, mas que foi ela própria quem pediu a suspensão do seu internato. No entanto, assume que tem sofrido várias retaliações — não detalhando — desde que apresentou queixa na PJ.

“Quer como anestesista, quer como doente, vi e vivi situações inacreditáveis”

“Não conheço a colega Diana Carvalho Pereira, embora médicas no mesmo hospital, eu encontro-me em fim de carreira, atraiçoada por uma doença oncológica, ela está a iniciar o seu percurso profissional.
Mas conheço muito bem o Serviço de Cirurgia do Hospital de Faro. Conheço-o desde outubro de 2012. Penso que a Diana só peca por defeito.” O relato é da médica Rosina Andrade e é feito na sua página de Facebook.

“Quer como anestesista quer como doente, vi e vivi situações inacreditáveis. Reportei aos órgãos de gestão do hospital diversos casos. Não tive a coragem de assumir a posição da Diana. Não me tentaram colar o rótulo de desequilibrada, mas de “pessoa difícil”, “conflituosa” e com “mau feitio”. Teria o melhor feitio do mundo se me estivesse nas tintas para os doentes. Não conhecendo pessoalmente a Diana, atesto que não está louca”, acrescenta a médica.

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Na sua opinião, quem trabalha em Faro, em particular no Bloco Operatório, “sabe que a Diana não está louca”, nem a mentir. “Durante 10 anos vi chegar diversos colegas de cirurgia, a maioria de Coimbra, excelentes nos conhecimentos e nas técnicas cirúrgicas. Um a um foram saindo. Para a mediocridade reinar os seguidores têm que ser medíocres”, acusa Rosina Andrade. “Diana abriu uma caixa de Pandora. Se forças de pressão não a fecharem e se as investigações forem sérias, este caso atingirá proporções inimagináveis. Para vergonha de quem sempre soube e nada fez.”

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