Salman Rushdie está a trabalhar num livro sobre o ataque que o deixou cego de um olho e com uma mão temporariamente paralisada. Em entrevista à Time, o escritor britânico revelou que está a tentar encontrar as palavras certas para descrever o que lhe aconteceu em agosto do ano passado e que esse relato será provavelmente a próxima coisa que vai publicar.

“Uma das coisas que estou a fazer é a tentar encontrar uma forma de escrever sobre o que aconteceu. O que quer que seja publicado a seguir será provavelmente um texto sobre isso. Para mim, é uma forma de tomar controlo. Ainda estou a tentar perceber como é que será. Não consigo dizer muito sobre isso, exceto que essa é a minha intenção e que estou a trabalhar nisso”, afirmou.

Salman Rushdie falou pela primeira vez de “ataque colossal” que o deixou cego de um olho e com uma mão paralizada

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Rushdie foi esfaqueado em agosto do ano passada na Chautauqua Institution, em Nova Iorque, onde ia participar num evento moderado por Henry Reese, um dos fundadores de uma organização que oferece proteção a escritores ameaçados. O autor foi transportado em estado grave para o hospital. Na sequência do incidente, ficou cego de um olho.

Na conversa com a Time, o escritor britânico a residir nos Estados Unidos da América admitiu que ainda não recuperou totalmente do ataque, mas que está a caminho da recuperação total. “O corpo humano tem uma capacidade tremenda de se curar”, disse, admitindo que “o olho não vai voltar” e que a mão que ficou temporariamente paralisada “está a recuperar muito bem com muita terapia”.

Rushie, que disse em fevereiro em entrevista à The New Yorker que estava a fazer terapia para superar o evento, admitiu que continua a ser seguido. “Como pode imaginar, é um evento terrível na vida de uma pessoa. E leva algum tempo a ser digerido”, declarou. Admitindo que atualmente não costuma sair muito, o escritor disse que tem “intenções de recuperar totalmente” a sua vida, mas que terá de o fazer aos poucos.

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O mesmo aconteceu com a escrita. Na mesma conversa com a The New Yorker, a entrevista primeira depois do ataque, concedida a propósito da publicação do mais recente romance, Victory City, Rushdie confessou que estava a passar por uma espécie de bloqueio artístico e que tinha dificuldades em escrever. Essa dificuldade parece estar a ser gradualmente ultrapassada.

“Durante muito tempo depois do ataque, não conseguia escrever. Simplesmente não conseguia. Tentava, mas não havia nada para mim. E depois, deixei de tentar. Parece que está a voltar. Como o resto de mim.”